Silêncios, opacidades e regimes de verdade em São Tomé e Príncipe: os contornos da história recente
Palavras-chave:
São Tomé e Príncipe, conhecimento histórico, história política contemporâneaResumo
A propósito de temáticas da história recentes de São Tomé e Príncipe, este texto propõe uma reflexão sobre as relações entre as configurações políticas desde o tempo colonial até ao pós-independência e a construção de narrativas históricas sobre o arquipélago.
Num certo sentido, o conhecimento histórico parece negligenciável dada a intensidade da interlocução pessoal devida à contiguidade numa exígua sociedade insular. Porém, desde o tempo colonial aos regimes do pós-independência, as metanarrativas históricas acerca da condição do arquipélago desempenharam um papel de sustentáculo do poder, hierarquizado e rígido no tempo colonial, assim tendo permanecido no pós-independência. Em ambos os períodos, uma história prospectiva foi criada e arvorada para cerzir as clivagens sociais e políticas.
Sendo a história o crivo fundamental da crítica da condução das sociedades, ela acabou por ser objecto de distorções, opacidades e silêncios, uma deriva acentuada pela falta de amparo de instituições suficientemente fortes para confrontar o poder. Assim, após décadas de democracia representativa, a história continua a padecer de vícios que reflectem a dependência dos historiadores e mais estudiosos, assim como de toda a sociedade, face aos mandantes.
A falta de um pensamento histórico fundamentado e crítico, debatido e aprofundado no espaço público é uma das debilidades da sociedade são-tomense, onde, também por força das enormens privações, os programas políticos são substituídos por lemas emblemáticos que se revelam geradores de descrença política e social e indício da incapacidade de determinação do futuro.
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