Silêncios, opacidades e regimes de verdade em São Tomé e Príncipe: os contornos da história recente

Autores

Palavras-chave:

São Tomé e Príncipe, conhecimento histórico, história política contemporânea

Resumo

A propósito de temáticas da história recentes de São Tomé e Príncipe, este texto propõe uma reflexão sobre as relações entre as configurações políticas desde o tempo colonial até ao pós-independência e a construção de narrativas históricas sobre o arquipélago.

Num certo sentido, o conhecimento histórico parece negligenciável dada a intensidade da interlocução pessoal devida à contiguidade numa exígua sociedade insular. Porém, desde o tempo colonial aos regimes do pós-independência, as metanarrativas históricas acerca da condição do arquipélago desempenharam um papel de sustentáculo do poder, hierarquizado e rígido no tempo colonial, assim tendo permanecido no pós-independência. Em ambos os períodos, uma história prospectiva foi criada e arvorada para cerzir as clivagens sociais e políticas.

Sendo a história o crivo fundamental da crítica da condução das sociedades, ela acabou por ser objecto de distorções, opacidades e silêncios, uma deriva acentuada pela falta de amparo de instituições suficientemente fortes para confrontar o poder. Assim, após décadas de democracia representativa, a história continua a padecer de vícios que reflectem a dependência dos historiadores e mais estudiosos, assim como de toda a sociedade, face aos mandantes.

A falta de um pensamento histórico fundamentado e crítico, debatido e aprofundado no espaço público é uma das debilidades da sociedade são-tomense, onde, também por força das enormens privações, os programas políticos são substituídos por lemas emblemáticos que se revelam geradores de descrença política e social e indício da incapacidade de determinação do futuro.

Biografia do Autor

Augusto Nascimento, Centro de História, Universidade de Lisboa

Investigador do Centro de História da Universidade de Lisboa. Licenciado em História, foi cooperante em São Tomé e Príncipe de 1981 a 1987. Regressado a Portugal, em 1992, obteve o grau de mestre, em 2000, o de doutor em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa. Em 2015 obteve a agregação em História Contemporânea. Foi investigador auxiliar do Instituto de Investigação Científica Tropical, de Lisboa. Colabora com o Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL), com o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e com o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Publicou textos científicos sobre São Tomé e Príncipe e Cabo Verde em livros e em revistas nacionais e internacionais. Tem como principais áreas de interesse a história política contemporânea de África.

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2019-02-06

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Artigos