“Reboa pelos Musseques o Som Surdo do Tan-Tan”. Expropriações, Apropriações e Agência Africana nos Carnavais de Luanda

Autores

Palavras-chave:

Carnaval Africano, Colonialismo, Angola, Agência Africana, Imprensa

Resumo

O artigo discute limites e possibilidades de acesso à “agência africana” através de representações jornalísticas dos agrupamentos carnavalescos formados nos musseques de Luanda durante o período colonial.  Embora considere que o caráter “selvagem”, “exótico”, “tradicional” ou “folclórico” a eles atribuído diz mais sobre as visões de mundo dos jornalistas do que sobre as realidades que eles pretendiam retratar, defende a utilização da imprensa em busca de indícios sobre as experiências dos africanos e sobre a forma como eles expressavam, no Carnaval, suas esperanças, sua rebeldia e suas próprias percepções da realidade.

Biografia do Autor

Andrea Barbosa Marzano, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Professora de História da África da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; Investigadora associada do Centro de História da Universidade de Lisboa; Mestre e Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense.

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Publicado

2024-07-02