A construção da subjetividade infantil a partir da vivência com o adoecimento: a questão do estigma

Autores

  • Martha Cristina Nunes Moreira Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ)
  • Aline Duque de Macedo Instituto Fernandes Figueira. Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) Programa de Atenção Integral à Criança Hospitalizada "Saúde & Brincar"

Palavras-chave:

Saúde da criança, Estigma, Subjetividade infantil

Resumo

O presente artigo discute a construção da subjetividade infantil, em situações de vivência com o adoecimento crônico e o estigma. Priorizamos a expressão lúdica como o mecanismo por excelência desse processo, que propicia, pela ludicidade, a elaboração do estigma por parte da criança. Utilizamos o estudo de caso como a estratégia metodológica para iluminar as conseqüências do estigma - entendido como o conjunto de marcas associadas à mieloemeningocele na vida de 5 crianças na faixa etária de 7 a 8 anos, que freqüentam e se tratam no Instituto Fernandes Figueira desde o seu nascimento. Além do trabalho direto com as crianças, entrevistamos suas respectivas mães a fim de recuperar e registrar as suas histórias com seus filhos, tendo como marcos cronológicos: a notícia da gravidez, o pré-natal, os exames diagnósticos e a constatação da anomalia em seus filhos, o nascimento e suas redes de sociabilidade, priorizando os contatos na família, na escola e no hospital. Como conclusão, apontamos que a ação técnica mediada pelo brincar na área de saúde da criança serve como potente instrumento para a construção de uma clínica ampliada - clínica essa que tem como qualificativo central o vínculo de confiança, estabelecido no encontro entre pessoas, e que vai possibilitar relações de convívio, e de troca social que transcendem o modelo reducionista de saúde.

Referências

ANTUNES, J. L. F. (1989) Por uma geografia hospitalar. Tempo Social: Revista de Sociologia da USP 1 (1): 227-334.

CASTORIADIS, C. (1999) Para si e subjetividade. In: PENA-VEJA, A & NASCIMENTO, E. P. (Orgs.). O pensar complexo: Edgar Morin e a crise da modernidade. Rio de Janeiro: Garamond.

DANTAS, H. (2002) Brincar e Trabalhar. In: KISHIMOTO, T. M. (Org.) O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira.

HELMAN, C. (2003) Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artes Médicas.

HUIZINGA, J. (1980) Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva.

GOFFMAN, E. (1988) Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara.

MITRE, R. M. de A. (2000) Brincando para viver: um estudo sobre a relação entre a criança gravemente adoecida e hospitalizada e o brincar. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher. IFF/RJ.

MONTANDON, C. (2001) Sociologia da infância: balanço dos trabalhos em língua inglesa. Cadernos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas 112: 33-60.

MOREIRA, M. C N. & CUNHA, C. C. (2003) Repensando as práticas e dilemas no cotidiano de atenção à saúde de crianças e jovens vivendo com HIV/AIDS. Divulgação para Saúde em Debate 29: 73-92.

NERY, P. R. A. (2000) A sociabilidade indiferente. Revista de Estudos Universitários 26 (2): 117-125.

SANTA ROZA, E. (1997) Um desafio às regras do jogo: o brincar como proposta de redefinição do tratamento da criança hospitalizada. In: SANTA ROZA, E. & SCHUELER REIS, E. (Orgs.) Da análise na infância ao infantil na análise. Rio de Janeiro: ContraCapa.

SIMMEL, G. (1983). Sociologia: Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: ática.

SIROTA, R. (2001) Emergência de uma Sociologia da infância: evolução do objeto e do olhar. Cadernos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas 112: 7-31.

WINNICOTT, D. (1975) O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.

Downloads

Publicado

2019-09-18

Edição

Seção

Artigos de Pesquisa Original