Política prisional e soluções apresentadas por egressos do sistema prisional

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36482/1809-5267.ARBP-2022v74.1989

Resumo

O objetivo deste estudo foi analisar concepções e reflexões de egressos do sistema prisional acerca da política prisional. Participaram do estudo sete homens e uma mulher egressos do sistema prisional do Rio Grande do Sul (Brasil). A partir da Entrevista Narrativa Autobiográfica, foi questionado a cada participante sobre como a política prisional poderia ser estruturada de modo a promover a reintegração social. Foram identificados quatro temas: 1) legitimidade da pena de prisão dentro de limites ideais; 2) crítica à arbitrariedade, injustiça e “burocracia” no sistema penal; 3) proposta de garantir trabalho digno e universal como estratégia de reintegração social; e 4) defesa da importância de assistência aos familiares de pessoas presas. Os achados revelam a reflexividade de egressos do sistema prisional e apontam para possibilidades de políticas públicas informadas pela experiência das pessoas mais afetadas, em especial em condições mais graves de exclusão social.

Referências

Amaral, T. V. F., Barros, V. A., & Nogueira, M. L. M. (2016). Fronteiras trabalho e pena: das casas de correção às PPPs prisionais. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(1), 63-75. https://doi.org/10.1590/1982-3703000852014

Baratta, A. (2002). Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do direito penal (3a ed.). Rio de Janeiro: Reva.

Barbalho, L. A., & Barros, V. A. (2014). Entre a cruz e a espada: a reintegração de egressos do sistema prisional a partir da política pública do governo de Minas Gerais. Psicologia em Revista, 20(3), 549-565. https://doi.org/10.5752/P.1678-9523.2014V20N3P549

Barton, A. (2005). Incapacitation theory. In M. Bosworth (Ed.), Encyclopedia of prisons and correctional facilities (Vol. 1, pp. 464-465). Thousand Oaks: Sage.

Bosi, M. L. M., & Uchimura, K. Y. (2007). Avaliação da qualidade ou avaliação qualitativa do cuidado em saúde? Revista de Saúde Pública, 41(1), 150-153. https://doi.org/10.1590/S0034-89102007000100020

Bottoms, A., & McWilliams, W. (1979). A non-treatment paradigm for probation practice. British Journal of Social Work, 9(2), 159-202. https://doi.org/10.1093/oxfordjournals.bjsw.a057063

Braga, A. G. M. (2008). A identidade do preso e as leis do cárcere (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.

Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77-101. http://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa

Chikadzi, V. (2017). Challenges facing ex-offenders when reintegrating into mainstream society in Gauteng, South Africa. Social Work, 53(2), 288-300. https://doi.org/10.15270/53-2-569

Constantino, P., Assis, S. G., & Pinto, L. W. (2016). O impacto da prisão na saúde mental dos presos do estado do Rio de Janeiro, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, 21(7), 2089-2100. https://doi.org/10.1590/1413-81232015217.01222016

Costa, S. G., & Bratkowski, P. L. S. (2007). Paradoxos do trabalho prisional na era do capitalismo flexível: o caso do Detran-RS. Revista de Administração Contemporânea, 11(3), 127-147. https://doi.org/10.1590/S1415-65552007000300007

Cunha, M. (2014). The ethnography of prisons and penal confinement. Annual Review of Anthropology, 43(1), 217-233. https://doi.org/10.1146/annurev-anthro-102313-030349

Dawes, M., Summerskill, W., Glasziou, P., Cartabellotta, A., Martin, J., Hopayian, K., . . . Osborne, J. (2005). Sicily statement on evidence-based practice. BMC Medical Education, 5(1), 1-7. https://doi.org/10.1186/1472-6920-5-1

Denzin, N. K., & Giardina, M. D. (2009). Introduction: qualitative inquiry and social justice: toward a politics of hope. In N. K. Denzin, & M. D. Giardina (Eds.), Qualitative inquiry and social justice: toward a politics of hope (pp. 11-50). Walnut Creek: Left Coast.

Denzin, N. K., & Lincoln, Y. S. (2005). Introduction: the discipline and practice of qualitative research. In N. K. Denzin, & Y. S. Lincoln (Eds.), The Sage handbook of qualitative research (pp. 1-32). Thousand Oaks: Sage.

Dixon-Woods, M., Bonas, S., Booth, A., Jones, D. R., Miller, T., Sutton, A. J., . . . Young, B. (2006). How can systematic reviews incorporate qualitative research? A critical perspective. Qualitative Research, 6(1), 27-44. https://doi.org/10.1177/1468794106058867

Furtado, J. P. (2001). Um método construtivista para a avaliação em saúde. Ciência e Saúde Coletiva, 6(1), 165-181. https://doi.org10.1590/S1413-81232001000100014

Gaborit, L. S. (2019). Olhando através dos portões da prisão: o acesso no campo da etnografia. Cadernos Pagu, (55), 1-27. https://doi.org/10.1590/18094449201900550005

Gibbs, G. R. (2007). Thematic coding and categorizing. In G. R. Gibbs (Ed.), Qualitative Research kit: analyzing qualitative data (pp. 38-55). Thousand Oaks: Sage.

Godoi, R. (2015). Fluxos em cadeia: as prisões em São Paulo na virada dos tempos (Tese de Doutorado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.

Goffman, E. (1963). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada (4a ed.). Rio de Janeiro: LTC.

Greenhalgh, T. (1999). Narrative based medicine: narrative based medicine in an evidence based world. British Medical Journal, 318(7179), 323-325. https://doi.org/10.1136/bmj.318.7179.323

Guba, E. G., & Lincoln, Y. S. (1989). Fourth generation evaluation. Thousand Oaks: Sage.

Guedes, R. N., Fonseca, R. M. G. S., & Egry, E. Y. (2013). Limites e possibilidades avaliativas da estratégia saúde da família para a violência de gênero. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 47(2), 304-311. https://doi.org/10.1590/S0080-62342013000200005

Hassen, M. N. A. (1999). O trabalho e os dias: ensaio antropológico sobre trabalho, crime e prisão. Porto Alegre: Tomo.

Irwin, J. (1987). Reflections on ethnography. Journal of Contemporary Ethnography, 16(1), 41-48. https://doi.org/10.1177/0891241687161003

Jovchelovitch, S., & Bauer, M. W. (2002). Entrevista narrativa. In M. W. Bauer, & G. Gaskell (Orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático (pp. 90-113). Petrópolis: Vozes.

Lago, N. B. (2019). Dias e noites em Tamara: prisões e tensões de gênero em conversas com “mulheres de preso”. Cadernos Pagu, (55), 1-26. https://doi.org/10.1590/18094449201900550006

Leal, E. M., & Serpa Junior, O. D. (2013). Acesso à experiência em primeira pessoa na pesquisa em Saúde Mental. Ciência e Saúde Coletiva, 18(10), 2939-2948.

https://doi.org/10.1590/S1413-81232013001000018

Leite, S. N., & Vasconcellos, M. P. C. (2003). Adesão à terapêutica medicamentosa: elementos para a discussão de conceitos e pressupostos adotados na literatura Ciência e Saúde Coletiva, 8(3), 775-782. https://doi.org/10.1590/S1413-81232003000300011

Lermen, H. S., & Silva, M. B. B. (2018). Masculinidades no cárcere: homens que visitam suas parceiras privadas de liberdade. Psicologia: Ciência e Profissão, 38(spe2), 73-87. https://doi.org/10.1590/1982-3703000212034

Lima, A., & Alvarenga Filho, J. R. (2018). A potência do cuidado: uma experiência no sistema prisional de Pernambuco. Psicologia: Ciência e Profissão, 38(spe2), 117-130. https://doi.org/10.1590/1982-3703000211971

Madeira, L. M. (2008). Trajetórias de homens infames: políticas públicas penais e programas de apoio a egressos do sistema penitenciário no Brasil (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós- Graduação em Sociologia, Porto Alegre, RS.

Marcis, F. L. (2016). A impossível governança da saúde na prisão? Reflexões a partir da MACA (Costa do Marfim). Ciência e Saúde Coletiva, 21(7), 2011-2019. https://doi.org/10.1590/1413-81232015217.00162016

Martinson, R. (1974). What works? Questions and answers about prison reform. The Public Interest, (35), 22-54.

Maruna, S. (1997). Going straight: desistance from crime and life narratives of reform. In A. Lieblich, & R. Josselson (Eds.), The narrative study of lives (pp. 59-93). Thousand Oaks: Sage.

Maruna, S. (2001). Making good: how ex-convicts reform and rebuild their lives. Washington: American Psychological Association.

Maruna, S. (2015). Qualitative research, theory development and evidence-based corrections: can success stories be “evidence”? In W. R. Palacios, & J. Miller (Eds.), Qualitative research in criminology: advances in criminological theory (Vol. 20, pp. 311-338). London: Routledge.

Maruna, S., & LeBel, T. P. (2010). The desistance paradigm in correctional practice: from programs to lives. In F. McNeill, P. Raynor, & C. Trotter (Eds.), Offender supervision: new directions in theory, research and practice (pp. 65-88). Abingdon: Willan.

McAdams, D. P., & St. Aubin, E. (1992). A theory of generativity and its assessment through self-report, behavioral acts, and narrative themes in autobiography. Journal of Personality and Social Psychology, 62(6), 1003-1015. https://doi.org/10.1037/0022-3514.62.6.1003

McAdams, D. P., Hart, H. M., & Maruna, S. (1998). The anatomy of generativity. In D. P. McAdams, & E. St. Aubin (Eds.), Generativity and adult development: how and why we care for the next generation (pp. 7-43). Washington: American Psychological Association.

McGuire, J. (2002) Integrating findings from research reviews. In J. McGuire (Ed.), Offender rehabilitation and treatment: effective programmes and policies to reduce reoffending (pp. 1-38). London: John Wiley & Sons.

McMurran, M., & McCulloch, A. (2007). Why don’t offenders complete treatment? Prisoners’ reasons for non-completion of a cognitive skills programme. Psychology, Crime and Law, 13(4), 345-354. https://doi.org/10.1080/10683160601060424

McNeill, F. (2006). A desistance paradigm for offender management. Criminology and Criminal Justice, 6(1), 39-62. https://doi.org/10.1177/1748895806060666

Melicio, T. (2018). Aproximando (d)o “bicho de sete cabeças”: alteridade e práticas de segurança no Rio de Janeiro e Irlanda do Norte. Psicologia: Ciência e Profissão, 38(spe2), 277-292. https://doi.org/10.1590/1982-3703000212589

Ministério da Saúde. Portaria interministerial n. 1.777, de 9 de setembro de 2003. Aprova o plano nacional de saúde no sistema penitenciário. Brasília: MS.

Ministério da Saúde. Portaria interministerial n. 1, de 2 de janeiro de 2014. Institui a política nacional de atenção integral à saúde das pessoas privadas de liberdade no sistema prisional (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: MS.

Nascimento, L. G., & Bandeira, M. M. B. (2018). Saúde penitenciária, promoção de saúde e redução de danos do encarceramento: desafios para a prática do psicólogo no sistema prisional. Psicologia: Ciência e Profissão, 38(spe2), 102-116. https://doi.org/10.1590/1982-3703000212064

Newbold, G. & Ross, J. I. (2013). Convict criminology at the crossroads: research note. The Prison Journal, 93(1), 3-10. http://doi.org/10.2139/ssrn.2427405

Onocko-Campos, R. T., & Furtado, J. P. (2008). Narrativas: utilização na pesquisa qualitativa em saúde. Revista de Saúde Pública, 42(6), 1090-1096. https://doi.org/10.1590/S0034-89102008005000052

Onocko-Campos, R. T., Ferrer, A. L., Gama, C. A. P., Campos, G. W. S., Trapé, T. L., & Dantas, D. V. (2014). Avaliação da qualidade do acesso na atenção primária de uma grande cidade brasileira na perspectiva dos usuários. Saúde em Debate, 38(spe), 252-264. https://doi.org/10.5935/0103-1104.2014S019

Padovani, N. C., Hasselberg, I., & Boe, C. S. (2019). Engajamentos antropológicos com a prisão: perspectivas de gênero. Cadernos Pagu, (55), 1-6. https://doi.org/10.1590/18094449201900550000

Patton, M. Q. (1987). How to use qualitative methods in evaluation. Thousand Oaks: Sage.

Pereira, E. L. (2016). Famílias de mulheres presas, promoção da saúde e acesso às políticas sociais no Distrito Federal, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, 21(7), 2123-2134. https://doi.org/10.1590/1413-81232015217.16792015

Porporino, F. (2010). Bringing sense and sensitivity to corrections: from programs to ‘fix’ offenders to services to support desistance. In J. Brayford, F. Cowe & J. Deering (Eds.), What else works? Creative work with offenders (pp. 61–85). Cullompton: Willan.

Presidência da República. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a lei de execução penal. Brasília: Brasil.

Presidência da República. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília: Brasil.

Presidência da República. Lei n. 10.792, de 1 de dezembro de 2003. Altera a Lei no 7.210, de 11 de junho de 1984 - Lei de execução penal e o decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941 - código de processo penal e dá outras providências. Brasília: Brasil.

Rangel, F. M., & Bicalho, P. P. G. (2017). O alongamento do tempo de prisão e a violação de direitos na custódia de presos no Brasil. Avances en Psicología Latinoamericana, 35(3), 473-483. https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.4304

Reishoffer, J. C., & Bicalho, P. P. G. (2017). Exame criminológico e psicologia: crise e manutenção da disciplina carcerária. Fractal: Revista de Psicologia, 29(1), 34-44. https://doi.org/10.22409/1984-0292/v29i1/1430.

Richards, S. C., & Ross, J. I. (2001). Introducing the new school of convict criminology. Social Justice, 28(1), 177-190.

Richards, S. C., Lenza, M., Newbold, G., Jones, R. S., Murphy, D., & Grigsby, R. (2010). Prison as seen by convict criminologists. In M. Herzog-Evans (Ed.), Transnational criminology manual (Vol. 3, pp. 343-360). Nijmegen: Wolf Legal.

Riessman, C. K. (2008). Narrative methods for the human sciences. Thousand Oaks: Sage.

Ross, J. I., & Richards, S. C. (2003). Convict criminology. Belmont: Thomson Wadsworth.

Ross, J. I., Jones R. S., Lenza, M., & Richards, S. C., (2016). Convict criminology and the struggle for inclusion. Critical Criminology, 24(4), 489-501. https://doi.org/10.1007/s10612-016-9332-9

Satterfield, J. M., Spring, B., Brownson, R. C., Mullen, E. J., Newhouse, R. P., Walker, B. B., & Whitlock, E. P. (2009). Toward a transdisciplinary model of evidence-based practice. The Milbank Quarterly, 87(2), 368-390. https://doi.org/10.1111/j.1468-0009.2009.00561.x

Schwartz, Y. & Durrive, L. (2007). Trabalho e ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niteroi: Universidade Federal Fluminense.

Smith, P., Cullen, F. T., & Latessa, E. J. (2009). Can 14,737 women be wrong? A meta-analysis of the LSI-R and recidivism for female offenders. Criminology and Public Policy, 8(1), 183-208. https://doi.org/10.1111/j.1745-9133.2009.00551.x

Smith, P., Gendreau, P., & Swartz, K. (2009). Validating the principles

of effective intervention: a systematic review of the contributions of

meta-analysis in the field of corrections. Victims and Offenders, 4(2), 148-169. https://doi.org/10.1080/15564880802612581

Toch, H. (1997). Corrections: a humanistic approach. Albany: Harrow & Heston.

Wacquant, L. (2002). The curious eclipse of prison ethnography

in the age of mass incarceration. Ethnography, 3(4), 371–397. https://doi.org/10.1177/1466138102003004012

World Health Organization. (2007). Health in prisons: a WHO guide to the essentials in prison health. Geneva: WHO.

Zaffaroni, E. R. (1991). Em busca das penas perdidas. Rio de Janeiro: Revan.

Downloads

Edição

Seção

Artigos de Pesquisa Original