Caracterização Petrográfica dos Calcários Ornamentais da Formação Caatinga (BA)
DOI:
https://doi.org/10.11137/2020_2_139_149Keywords:
Bacia de Irecê, Quaternário, CalcretesAbstract
Os calcários da Formação Caatinga (Paleógeno-Quaternário, Bacia de Irecê), conhecidos popularmente como Bege Bahia ou Travertino Nacional, estão amplamente distribuídos pelo centro-norte do estado da Bahia e consistem em importantes rochas ornamentais no Brasil. Apesar da relevância comercial, esses carbonatos carecem de estudos geológicos detalhados sobre suas características macro e microscópicas de modo a contribuir com o entendimento dos aspectos evolutivos dessa unidade. A partir do estudo detalhado de placas ornamentais adquiridas em diferentes marmorarias do estado do Rio de Janeiro, pôde-se identificar que estes carbonatos consistem em calcretes desenvolvidos em um substrato original majoritariamente carbonático, com pouca influência de aporte siliciclástico e com diferentes feições macro e microscópicas resultantes de processos bióticos e abióticos formados em condições vadosas e freáticas. As principais texturas e estruturas identificadas são: (1) nódulos; (2) vênulas; e (3) brechas. Além disso, observa-se uma contribuição siliciclástica (areia média a grânulo) organizada em níveis horizontais, que por vezes preenchem vênulas oblíquas, além de ocorrerem dispersos na matriz micrítica. Os nódulos, vênulas e brechas se formaram a partir de processos essencialmente abióticos enquanto que a presença de grãos siliciclásticos com envelopes micríticos sugerem que processos bióticos foram atuantes. A ocorrência de bioclastos de ostracodes e carófitas indicam um paleoambiente com disponibilidade de água, porém as fraturas de dessecação, brechas e os argilominerais fibrosos autigênicos sugerem momentos de exposição associados a períodos mais secos. As feições macro e microscópicas descritas indicam que os calcretes da Formação Caatinga possuem uma evolução complexa e dinâmica formada sob condições de sazonalidade entre períodos secos e úmidos.References
ABIROCHAS 2019. Associação Brasileira da Indústria de
Rochas Ornamentais, Informe 01/2019, São Paulo, São Paulo (Brasil). Disponível em: < http://
abirochas.com.br/wp-content/uploads/2018/06/
Informes/Informe_01_2019_Balanco_2018.pdf>.
Acesso em: 12 jan. 2020.
Almeida, F.F.M. 1977. O Cráton do São Francisco. Revista
Brasileira de Geociências, 7: 349-364.
Alonso-Zarza, A.M.; Calvo, J.P. & García Del Cura, M.A. 1992.
Palustrine sedimentation and associated features to
grainification and pseudo-microkarst in the Middle
Miocene (Intermediate Unit) of the Madrid Basin,
Spain. Sedimentary Geology, 76: 43-61.
Alonso-Zarza, A.M. 2003. Palaeoenvironmental significance of
palustrine carbonates and calcretes in the geological
record. Earth-Science Reviews, 60(3–4): 261-298.
Alonso-Zarza, A.M. & Tanner, L.H. 2010a. Carbonates in
Continental Settings: Facies, Environments and
Processes. Amsterdam, Elsevier, 369p.
Alonso-Zarza, A.M. & Tanner, L.H. 2010b. Carbonates in
Continental Settings: Geochemistry, Diagenesis and
Applications. Amsterdam, Elsevier, 336p.
Auler, A.S. 1999. Karst Evolution and Palaeoclimate in Eastern
Brazil. University of Bristol, Ph.D. Thesis, 268p.
Auler, A.S.; Smart, P.L.; Wang, X.; Cristalli, P.S. & Edwards,
R.L. 2003. O calcário Caatinga e os carbonatos
secundários superficiais do norte da Bahia: Geocronologia e significado paleoambiental. In: CONGRESSO
DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS
DO QUATERNÁRIO, 9, Recife. 2003. Anais.
Borges, S.V.F.; Balsamo, F.; Vieira, M.M.; Iacumin, P.;
Srivastava, N.K.; Storti, F. & Bezerra, F.H.R. 2016.
Pedogenic calcretes within fracture systems and
beddings in Neoproterozoic limestones of the Irecê
Basin, northeastern Brazil. Sedimentary Geology,
: 119-133.
Braithwaite, C.J.R. 2005. Carbonate Sediments and Rocks. A
Manual for Earth Scientists and Engineers. Dunbeath,
Whittles Publishing, 164p.
Branner, J.C. 1910. Aggraded limestone plains of the interior
of Bahia and the climatic changes suggested by them.
Geological Society of American Bulletin, 22: 187-206.
Bustillo, M.A. & García Romero, E. 2003. Arcillas fibrosas
anómalas en encostramientos y sedimentos superficiales: características y génesis (Esquivias, Cuenca
de Madrid). Boletín Sociedad Española Cerámica y
Vidrio, 42: 289-297.
Carbonel, P.; Colin, J.P.; Danielopol, D.L.; Loeffler, H.
& Neustrueva, I. 1988. Paleoecology of limnic
ostracodes: a review of some major topics. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology,
: 413-461.
Chadwick, O.A.; Hendricks, D.M. & Nettleton, W.D. 1987.
Silica in duric soils: I. A depositional model. Soil
Science Society of America. Journal, 51(4): 975-982.
Coury, R.L.M.; Rocha, A.M.; Silva, M.S. & Rodrigues,
C.C. 2018. Mármore Bege Bahia: atual fonte
econômica ao saber fazer do futuro. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON TECHNOLOGICAL
INNOVATION, 9, Aracaju, 2018, p. 930-946.
De Deckker, P. 1988. Biological and sedimentary facies of
Australian salt lakes. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 62: 237-270.
Dickson, J. 1965. A modified staining technique for carbonate in
thin section. Nature, 205: 587.
Esteban, M. & Klappa, C.F. 1983. Subaerial exposure environments. In: SCHOLLE, P.A.; BEBOUT, D.G. &
MOORE, C.H. (eds.). Carbonate Depositional
Environments. Tulsa, American Association of
Petroleum Geologists Memoir 33, p. 1-96.
Flügel, E. 2004. Microfacies of Carbonate Rocks: Analysis,
Interpretation and Application. Berlin, Springer, 976p.
Folk, R.L. 1965. Some aspects of recrystallization in ancient
limestones. In: PRAY, L.C. & MURRAY, R.C. (eds.).
Dolomitization and Limestone Diagenesis. Tulsa,
Society of Economic Paleontologists and Mineralogists Special Publication, 13, p.14-48.
Freytet, P. 1973. Petrography and paleo-environment of
continental carbonate deposits with particular
reference to the Upper Cretaceous and Lower Eocene
of Languedoc (Southern France). Sedimentary
Geology, 10: 25–60.
García, A. 1994. Charophyta: their use in paleolimnology.
Journal of Paleolimnology, 10: 43-52.
Gierlowski-Kordesch, E. L. 2010. Lacustrine carbonates. In:
ALONSO-ZARZA, A.M. & TANNER, L.H. (eds.).
Carbonates in Continental Settings: Facies, Environments and Processes. Amsterdam, Elsevier, p. 1-101.
Gile, L.H.; Peterson, F.F.& Grossman, R.B. 1966. Morphological
and genetic sequences of carbonate accumulation in
desert soils. Soil Science, 101: 347-360.
Harrison, R.S. & Steinen, R.P. 1978. Subaerial crusts, caliche
profiles and breccia horizons Comparison of some
Holocene and Mississippian exposure surface,
Barbados and Kentucky. Geological Society of
American Bulletin, 89(3): 385-396.
Hoffman, P.F.; Kaufman, A.J.; Halverson, G.P. & Schrag, D.P.A.
A Neoproterozoic Snowball Earth. Science, 281:
-1346.
Land, L.S. & Epstein, S. 1970. Late Pleistocene diagenesis
and dolomitization, North Jamaica. Sedimentology,
: 187-200.
Magalhães, A.C.F. 2007. Mármore Bege Bahia: dos tempos
pretéritos ao panorama atual. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ROCHAS ORNAMENTAIS,
, Natal, 2007, Anais, Natal, p. 288-293.
Neves, B.B.B. 1967. Geologia das folhas de Upamirim e Morro
do Chapéu, Bahia. Recife, Sudene/Conesp, 17, 53p.
Palacios-Fest, M.R.; Cohen, A.S.; Ruiz, J. & Blank, B. 1993.
Comparative paleoclimatic interpretations from
nonmarine ostracodes using faunal assemblages, trace
elements, shell chemistry, and stable isotope data. In:
SWART, P.K.; LOHMANN, K.C.; MCKENZIE, J.
& SAVIN, S. (eds.). Climate Change in Continental
Isotopic Records. Washington, American Geophysical
Union Geophysical Monograph, 78, p. 179-190.
Pedreira, A.J.; Arcanjo, B.A.; Pedroza, C.J.; Oliveira, J.E.
& Silva, B.C. 1975. Projeto Bahia — Geologia da
Chapada Diamantina. DNPM/CPRM. Ministério das
Minas e Energia. República Federativa do Brasil,
Brasília.
Pedreira A.J.; Rocha, A.J.D.; Guimarães, J.T.; Morais Filho,
J.; Bonfim, L.F.C. & Tesch, N. 1985. Folha SC.
-Y-C-Irecê. Carta geológica 1:100.000. Projeto
Bacia de Irecê-CPRM. CBPM, Salvador - BA.
Penha, A.E.P.P. 1994. O Calcário Caatinga de Ourolândia,
Bahia: Feições diagnósticas, gênese e evolução de
um perfil calcrete. Programa de Pós-graduação em
Geologia, Universidade Federal da Bahia, Dissertação
de Mestrado, 114p.
Ribeiro, A.F.; Pereira, C.P. & Magalhães, A.C.F. 2002.
Mármore Bege Bahia em Ourolândia-Mirangaba-Jacobina, Bahia: geologia, potencialidade e desenvolvimento sustentável. Salvador, CBPM, Série Arquivos
Abertos, 52p.
Semeniuk, V. 1986. Calcrete breccia floatstone in Holocene
sand developed by stormuprooted trees. Sedimentary
Geology, 48(3): 183-192.
Siever, R. 1962. Silica solubility 0–200ºC and the diagenesis of
siliceous sediments. Journal of Geology, 70: 127–150.
Souza, S.L.; Brito, P.C.R. & Silva, R.W.S. 1993. Estratigrafia,
Sedimentologia e Recursos Minerais da Formação
Salitre na Bacia de Irecê, Bahia. 2. Salvador, CBPM,
Série Arquivos Abertos, 36p.
Watts, N.L. 1978. Displacive calcite: evidence from recent and
ancient calcretes. Geology, 6(11): 699-703.
Wieder, M. & Yaalon, D.H. 1982. Micromorphological fabrics
and developmental stages of carbonate nodular forms
related to soil characteristics. Geoderma, 28(3):
-220.
Wright, V.P. 1990. A micromorphological classification of fossil
and recent calcic and petrocalcic microstructures.
In: DOUGLAS, L.A. (ed.). Soil Micromorphology:
A Basic and Applied Science. Amsterdam, Elsevier,
p. 401-407.
Wright, V.P. & Tucker, M.E. 1991. Calcretes. Oxford, Blackwell
Publishing Ltd, 347p.
Wright, V.P. 2007. Calcretes. In: NASH, D.J. & MCLAREN,
S.J. (eds.). Calcretes in geochemical sediments and
landscapes. Oxford, Blackwell Publishing, p. 10-45.
Downloads
Published
Issue
Section
License
This journal is licensed under a Creative Commons — Attribution 4.0 International — CC BY 4.0, which permits use, distribution and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.