Pelas portas que os gatos veem, o poema chegará: Cixous e Lispector em tradução
Resumo
No posfácio à tradução brasileira de A chegada da escrita, de Hélène Cixous, 2024, lê-se que ritmo impresso ao texto traduzido porta a marca de Água viva, 1973, de Clarice Lispector, como um suplemento àquilo que a voz da escrita diz que a ritma, isto é, a lalemã, evocação do alemão materno como canto, lalação, onomatopeia. A partir do encontro entre o texto francês “La venue à l’écriture”, 1976, o texto de Clarice e o texto traduzido, este ensaio propõe-se a pensar movimentos da escrita de Cixous que impedem que o texto se fixe em um já-escrito, relançando a escrita no que ela fará, assim como a parataxe dá forma ao entrecortado do instante e desafia a causalidade – a causa é matéria de passado, diz a voz de Água viva que quer o instante-já que não cessa de morrer e renascer. Ao livro ainda a escrever, Cixous chama – poema. E dizer chamar não é dizer nomear. Chamar é lembrar a chama de um fogo morto ou iminente. Chamar é fazer apelo, é anunciar, é lançar em direção a, colocando a escrita em chegada, em ponto de partida, em tradução, em vida, como recebê-la? Em mais de uma língua, chamando o poema que soletrará o idioma Cixous, lugar de passagem do idioma Clarice.
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