Do animal que fui ao que um dia serei: diálogos com El animal sobre la piedra, de Daniela Tarazona
DOI:
https://doi.org/10.1590/1517-106X/2024e63250Abstract
A narrativa de uma jovem mulher que, após experimentar dolorosas perdas em sua família, parte em uma viagem rumo ao desconhecido e lá passa a viver uma estranha mutação, vindo a se transformar em réptil, é o assunto do romance El animal sobre la piedra, de Daniela Tarazona, publicado originalmente em 2008. A metamorfose da protagonista provoca a discussão sobre monstruosidade e normalidade, cisão que marca a nossa cultura ocidental e que também é objeto das reflexões de Michel Foucault em Os anormais. O “monstro” constitui, para Foucault, a primeira das “figuras” ou “círculos” enquadrados no conceito de “anormais”, ideia que ganha uma configuração mais precisa no século XIX. Além de Foucault, interessam para a leitura proposta os conceitos de rostificação e de corpo vivo, desenvolvidos por Gilles Deleuze e Félix Guattari, e de metamorfose, trabalhados por Emanuelle Coccia e Caroline Bynum. Para Emanuelle Coccia, a metamorfose é um fenômeno biológico que abarca os antecedentes tanto do humano como do não-humano. O corpo humano, em seu processo histórico, já foi o de um primata, e este, por sua vez, também viveu outras formas de vida anteriores. Desse modo, o presente estudo procura desarticular a oposição construída entre humanos e animais percebendo como a animalidade sempre constituiu uma tomada negativa no âmbito do antropoceno.
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