Sobrevivendo ao estigma da hipertrofia: notas etnográficas sobre o fisiculturismo feminino

Autores

  • Rafael da Silva Mattos Departamento de Ciências da Atividade Física do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
  • ELIANE GRIVET Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE) do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
  • Juliana Brandão Pinto de Castro Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE) do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
  • Wecisley Ribeiro do Espírito Santo Departamento de Ginástica do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
  • César Sabino Departamento de Estudos Políticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
  • Jeferson José Moebus Retondar Departamento de Ginástica do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
  • Dirceu Gama Departamento de Ciências da Atividade Física do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Palavras-chave:

Estigma, Gênero, Fisiculturismo, Educação Física, Imagem Corporal

Resumo

Este estudo objetivou compreender o estigma da imagem do corpo hipertrofiado das fisiculturistas da modalidade bodybuilding em diferentes espaços sociais e as respectivas implicações na vida cotidiana. O referencial teórico-conceitual selecionado foi a teoria de Erving Goffman, privilegiando o conceito de estigma e de representação do eu; e a teoria de L. Wacquant sobre a construção socioantropológica do objeto de estudo a partir do próprio corpo. Para compreender os sentidos dessa problemática, realizou-se uma pesquisa qualitativa de campo etnográfico e entrevistas em academias de fisiculturismo no bairro da zona sul do Rio de Janeiro. Observou-se que, na construção de um corpo com grande volume muscular, para alcançar os padrões estéticos da modalidade, exagera-se no consumo de suplementos e esteroides anabolizantes andrógenos. A fim de obter uma imagem de corpo ideal, essas mulheres constroem uma espécie de obsessão por um corpo forte, musculoso, com baixo percentual de gordura e, ao mesmo tempo, maternal e feminino. Desse modo, permeia a desconstrução da imagem social da mulher frágil e dócil na história sociocultural do gênero feminino. Conclui-se que o bodybuilding insere-se num grupo especifico da sociedade contemporânea, reconhecida dentro dos espaços sociais de competições, adquirindo poder simbólico. Simultaneamente, as fisiculturistas tendem a ser estigmatizadas nas academias de musculação por serem consideradas exageradas, desproporcionais e monstruosas.

Biografia do Autor

Rafael da Silva Mattos, Departamento de Ciências da Atividade Física do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Professor Adjunto do Instituto de Educação Física e Desportos (IEFD) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE) do IEFD-UERJ

Departamento de Ciências da Atividade Física (DCAF)

Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ

Licenciado em Educação Física pelo IEFD/UERJ

Bacharel em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/UERJ

ELIANE GRIVET, Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE) do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Graduada em Licenciatura em Educação Física pelo Instituto de Educação Física e Desportos - (UERJ).

Bacharel em Fisioterapia pelo Instituto Metodista Bennett (IMB) - Rio de Janeiro.

Juliana Brandão Pinto de Castro, Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE) do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Mestre em Alimentação, Nutrição e Saúde (UERJ). Licenciatura Plena em Educação Física (UERJ).

Professora do Departamento de Ciências da Atividade Física (DCAF) do Instituto de Educação Física e Desportos (IEFD/UERJ)

Wecisley Ribeiro do Espírito Santo, Departamento de Ginástica do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ-2013).

Licenciado Pleno em Educação Física pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2004).

Foi pesquisador bolsista do Colégio Brasileiro de Altos Estudos, vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, onde desenvolveu uma pesquisa coletiva sobre Movimentos Sociais e Esfera Pública, em cooperação com a Secretaria Geral da Presidência da República (2012-2014).

É professor adjunto efetivo do Instituto de Educação Física e Desportos do Centro de Educação e Humanidades da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

É membro fundador do Núcleo de Antropologia do Trabalho, Estudos Biográficos e de Trajetórias (NuAT/Museu Nacional/UFRJ).

César Sabino, Departamento de Estudos Políticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Doutor em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR).

Mestre em Sociologia e Antropologia pela UFRJ.

Pós-Doutor em Ciências Humanas e Saúde pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 

Graduado em História pela UERJ.

Atualmente é Professor Associado de Sociologia e Sociologia Política no Departamento de Estudos Políticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

É professor na Pós-Graduação em Ciência Política da UNIRIO. 

Jeferson José Moebus Retondar, Departamento de Ginástica do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Professor Associado do Instituto de Educação Física e Desportos da UERJ.

Doutor em Educação Física pela Universidade Gama Filho-RJ.

Formação em Ciências Socias pela UFRJ.

Formação em Psicanálise pelo CBP-RJ.

Coordenador do Laboratório do Imaginário e das Representações Sociais Sobre as Práticas Corporais e Lúdicas (LISACEL-UERJ).

Dirceu Gama, Departamento de Ciências da Atividade Física do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

 Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),

Mestrado em Educação Física pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ)

 Doutorado em Filosofia pela UGF-RJ.

Lecionou na Universidade Católica de Petrópolis (RJ), na Universidade Estácio de Sá (RJ), na Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e na Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

É professor adjunto do Departamento de Ciências da Atividade Física (DECAF) do Instituto de Educação Física e Desportos (IEFD) da UERJ

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2019-08-05

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Artigos