DOS RETRATOS QUE EL-REY NÃO VIU: COMPADRIO ENTRE LIVRES E ESCRAVIZADOS NA OCUPAÇÃO DA AMÉRICA PORTUGUESA MERIDIONAL

Autores

  • Márcio Blanco Razzera Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Palavras-chave:

escravidão, compadrio, elites coloniais

Resumo

O presente artigo trata sobre as relações de compadrio estabelecidas entre pessoas livres e escravizadas durante a integração do Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul, ao complexo ultramarino português. Analisa-se a freguesia de Viamão entre 1747 e 1759, período em que a localidade recebeu diversas correntes migratórias e formou sua primeira elite escravista. Este recorte abarca o período em que a Coroa portuguesa fomentou a povoação da fronteira sul como forma de garantir a posse do território. O grande número de livres batizando filhos de escravos, unidos através do parentesco fictício grupos de procedências variadas presentes na colonização, foi importante para a fixação territorial e para a demarcação de poderes, colaborando para a expansão do império lusitano e dos valores de Antigo Regime. Discute-se a ideia de hierarquias sociais costumeiras e as relações entre senhores e escravos na localidade em questão. O principal corpus documental são as fontes produzidas em âmbito paroquial, em especial os registros de batismo e róis de confessados

Biografia do Autor

Márcio Blanco Razzera, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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Publicado

2022-08-31