A FICCIONALIZAÇÃO DA AUTORIDADE NA CIROPEDIA DE XENOFONTE
DOI:
https://doi.org/10.17074/cpc.v2i38.30806Palavras-chave:
ficção, historiografia, romance, Xenofonte, CiropediaResumo
O objetivo desse artigo é a análise do proêmio da Ciropedia de Xenofonte, visando demonstrar a absorção de elementos do discurso historiográfico por parte do narrador a fim de garantir a veracidade da narrativa da vida de Ciro. Com isso, tais elementos parecem estabelecer um pacto de leitura em que o narrador nega a ficcionalidade do texto. Os proêmios dos historiadores eram textos em que estes afirmavam as suas temáticas, mas também buscavam justificar as suas escolhas e, sobretudo, estabelecer os critérios de pesquisa e análise para fortalecer a impressão de idoneidade e autoridade quanto aos fatos narrados. Uma vez que a vida de Ciro era um tema conhecido dos leitores de Xenofonte no século IV a.C., parece-nos que esta é uma estratégia que não tem a função de enganar o leitor quanto à veracidade dos fatos narrados, já que eles reconheceriam facilmente a ficcionalidade, e sim, granjear a autoridade quanto às reflexões morais e éticas de Xenofonte cuja vida de Ciro exemplifica. Isso ficará mais evidente na análise do proêmio onde o narrador, sob a aparência de historiador, deixa vestígios quanto à quebra de convenções da historiografia, indicando o caráter ficcional da narrativa. Trata-se, portanto, de um complexo proêmio que inaugura uma nova modalidade nos textos em prosa da Antiguidade, uma narrativa ficcional que finge ser verdadeira.Referências
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