Ninfa volátil: as meninas escorregadias e inacabadas de Donizete Galvão

Autores

  • Maura Voltarelli Roque Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

DOI:

https://doi.org/10.35520/flbc.2019.v11n21a22656

Palavras-chave:

poesia contemporânea, Donizete Galvão, ninfa, imagem

Resumo

Este trabalho tem como objetivo pensar as figurações da Ninfa enquanto forma feminina em movimento, tal como vista por Aby Warburg e Georges Didi-Hubermam, em dois poemas de Donizete Galvão: “Os olhos de Charlotte Rampling”, de Pelo corpo (2002), e “Ruminadouro”, de Ruminações (1999). Mineiro de Borda da Mata, Donizete Galvão construiu uma poesia atravessada pela tensão entre delicadeza e profundidade, corpo e cosmo, morte e vida, construção e inspiração. “Antropófago da memória”, como observou Paulo Octaviano Terra, a infância e os mortos ocupam um lugar fundamental nessa “poesia menor” atenta aos fragmentos, aos resíduos e ruínas, à poeira das coisas desgastadas e levadas pelo tempo. Seguindo de perto os rastros de Drummond e, em alguns aspectos, os de Bandeira, a dimensão da “vida que podia ter sido e que não foi” também ocupa um lugar de destaque nessa poética do desejo, mas que deseja antes de tudo o perdido, o entrevisto, o que apenas passa diante de nossos olhos como um fantasma, um sintoma errante e convulsivo que inquieta nossos tradicionais modelos de temporalidade, deixando vir à tona vínculos insuspeitados entre a contemporaneidade poética e aquela que talvez possamos chamar uma cultura literária fin de siècle.

Biografia do Autor

Maura Voltarelli Roque, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Doutoranda em Teoria e História Literária no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com pesquisa sobre a imagem da Ninfa na poesia brasileira moderna e contemporânea.

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Publicado

2019-06-27

Edição

Seção

Ensaios