Os ratos de Ernest Lanzer, as pequenas mortes de Felipe Werle: breves anotações sobre neurose obsessiva em Freud e suas possíveis implicações com a literatura

Abstract

A partir do cruzamento das leituras do romance As pequenas mortes (2013), de autoria do escritor goiano Wesley Peres, com o estudo clínico empreendido por Freud, intitulado “Observações sobre um caso de neurose obsessiva (‘O homem dos ratos’, 1909)”, busca-se uma análise a respeito de como conflitos existenciais relacionados à morte, à sexualidade, ao corpo, à linguagem e à figura do pai, por exemplo, atuam no surgimento de sintomas possíveis de deflagrar um quadro neurótico, um quadro psicótico ou, ainda, instaurar no sujeito uma variedade de sintomas que transitam entre uma estrutura psicopatológica e outra, desafiando a certeza e a definitividade de um diagnóstico. O discurso literário, em especial a narrativa ficcional contemporânea, a exemplo do discurso psicanalítico surgido no início do século XX, pode, sobretudo, fazer repensar categorias e conceitos teóricos, subvertendo, assim, o discurso científico ou clínico pretensamente já consolidado. Assim como a teoria freudiana serviu-se da literatura clássica na construção de seus postulados, a literatura contemporânea em sua vasta incursão pela subjetividade do homem pós-moderno surge como leitura e escuta de determinados sintomas que figuram em verdadeiros, senão intransponíveis, desafios à clínica da contemporaneidade.