Por que você mistura tudo? Autoficção em <em>Algum lugar</em>, de Paloma Vidal

Autores

  • Bruno Lima Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

DOI:

https://doi.org/10.35520/flbc.2018.v10n20a22859

Palavras-chave:

Paloma Vidal, realidade, autor, ficção, autoficção

Resumo

Algum lugar, romance de Paloma Vidal, é exemplar do retorno do autor na prosa de ficção contemporânea. Deve-se registrar que a participação autoral no universo ficcional nada mais é do que uma forma de problematizar os conceitos de realidade e ficção e também de evidenciar a crítica à noção de sujeito, agora múltiplo, instável e inatingível. Ao leitor, resta apenas a indecidibilidade acerca da verdade e da mentira contidas no romance, incerto sobre os dados referenciais que se apresentam textualmente. Desse modo, a autoficção baralha e subverte o que é ficção e o que é realidade, pois as mistura de modo a torná-las indefiníveis. Assim, pode-se afirmar que a autora do romance desloca sua ontologia da empiria para a fabulação e, em igual medida, o leitor também, incerto sobre em qual paradigma se situa, no sentido de que não está nem apenas no universo ficcional, nem somente na referencialidade. Resta-lhe a indecisão, o entrelugar, o interstício. O presente ensaio visa evidenciar os meandros autoficcionais que viabilizam a crítica ao sujeito e potencializam a ausência da dicotomia ficção versus realidade, comum à sociedade do século atual.

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Publicado

2018-12-30

Edição

Seção

Ensaios