O arquivo assombrado: transgressão, composição e desintegração do mundo em Cornélio Penna e Farnese de Andrade

Autores

  • Flavia Vieira Santos

Resumo

O trabalho pretende investigar em perspectiva comparada as obras do escritor Cornélio Penna (1896-1958) e do artista plástico Farnese de Andrade (1926-1996). Embora suas produções datem de períodos diferentes - a obra corneliana inserida no Modernismo brasileiro, e a de Farnese produzida no pós modernismo - e se diferenciem em relação ao suporte escolhido, há temáticas comuns que perfazem ambas as produções. Essas temáticas privilegiam uma composição meticulosa com os despojos encontrados nas ruas e espaços da cidade, em assemblages que se convertem em pequenos fragmentos do horror doméstico revivido em Farnese, e com as memórias controvertidas provenientes das casas patriarcais das pequenas cidades interioranas brasileiras, nas obras de Cornélio Penna. A origem mineira comum faz com que os autores mantenham em suas obras uma intensa carga dramática que condensa em objetos e fragmentos textuais a textura perturbadora das memórias familiares. O espólio, a herança e a hereditariedade são, nesses arquivos, trabalhados e reagrupados, construindo textos e obras plásticas cuja vivacidade é contaminada por uma incontestável carga mortuária, o que torna o conjunto composto por tais obras extremamente perturbador. Ao adentrar os espaços privados, esses objetos descortinam realidades preservadas por austeros códigos de interdição, reconfigurando as lembranças a partir de uma lógica ficcional.

 

Palavras-chave: Cornélio Penna. Farnese de Andrade. Arquivo. Transgressão.

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Publicado

2019-03-19