A favela aos olhos de uma “favelada”: representação do espaço e legitimação do discurso na obra Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus

Autores

  • Marcela Costa de Souza UFRN
  • Juliane Vargas Welter UFRN

Resumo

Este artigo objetiva investigar as estratégias utilizadas por Carolina Maria de Jesus em sua obra Quarto de Despejo (1960) para construir uma representação da favela e daqueles que nela vivem, e, ao mesmo tempo, fazer com que seu discurso fosse aceito em um campo tão excludente como o literário. Para que isso seja possível, realizaremos o seguinte percurso: utilizaremos como suporte os trabalhos de Ribeiro (2017), Davis (2016), Collins (2016) e bell hooks (1995) para explicitarmos qual é o lugar de fala da autora e quão silenciado ele é; buscaremos compreender, a partir de Bourdieu (1996b), como está organizado o espaço social, e como o posicionamento do sujeito em um ponto dele pode determinar seu ponto de vista sobre o mundo; problematizaremos, com base no trabalho de Gonçalves e Nascimento (2011), o conceito de favela como espaço social e a conflituosa relação dos moradores com ele; e pensaremos no campo literário como espaço de relações de força e de exclusão de grupos marginalizados com a ajuda de Bourdieu (1996a), Abreu (2006) e Dalcastagné (2007). A partir disso, escolhendo as metáforas como recorte de análise, verificou-se que elas funcionam, de fato, no texto, como estratégia de legitimação do discurso como literário, e que, além disso, representam e apresentam a favela, de forma clara e singular, ao leitor que desconhece essa realidade. Portanto, concluímos que a obra configura-se não só como autêntica representação da favela, mas também como objeto de transgressão por alcançar um espaço excludente como o campo literário.

Biografia do Autor

Marcela Costa de Souza, UFRN

Graduanda em Letras pela UFRN

Juliane Vargas Welter, UFRN

Professora de Literatura brasileira na UFRN

Referências

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Publicado

2020-10-13