Em Dueto: Proust e Girard

Autores

  • Natália da Silva Gama

Resumo

Todas as vezes que lemos Em busca do tempo perdido1 de Marcel Proust temos a sensação que estamos diante de um concerto. Sabemos que a obra já foi comparada por muitos estudiosos a uma sinfonia devido ao ritmo das frases e à composição simétrica dos temas, mas a razão pela qual comparamos Proust à música é de outra natureza. Não é fácil ler Proust. Desconfiamos que a dificuldade encontra-se menos na complexidade dos temas e mais no esforço de acompanhar o andamento da obra. Temos a impressão que o romance foi escrito em partituras. Dizemos isso porque a música por ser uma arte do tempo, já que só se realiza nele, ensina que é preciso aceitar o tempo, exigindo tanto do ouvinte como do intérprete paciência e entrega. A literatura de uma forma geral também ensina a lidar com o tempo e com as vicissitudes que o acompanham. Divide com o leitor o curso da espera e das peripécias. Mas Em busca do tempo perdido faz dessa lição sua própria escrita literária. Olhando sobre este ângulo para o romance, descobrimos notações específicas da escrita musical mescladas à estrutura do romance, como, por exemplo, o ritornello (‘um pouco retorno' em italiano). Símbolo que indica a repetição de compasso(s) ou de frases musicais. Em algumas peças o primeiro ou o último movimento aparece sob a forma de ritornello, retornando em parte ou totalmente ao longo dos demais movimentos. No romance, os temas obedecem ao comando do ritornello, se assim podemos dizer. Motivos, repetições, sequências, andamentos, sintaxe de uma partitura literária.

Referências

PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido. Trad. Fernando Py. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

GIRARD, René. Mensonge romantique et vérité romanesque.Hachette littératures, Paris, 200

___. Shakespeare: Teatro da inveja. Trad. Pedro Sette -- Câmara.São Paulo: É-Realizações, 2010.

___. Mimesis and theory.Essays on Literature and Criticism, 1953 -2005. Stanford University Press, California, 2008.

___. ‘Novelistic Experience to Oedipal Myth'. In: Oedipus unbound. Selected writings on rivalry and desire. Stanford University Press, California, 2004.

___. Um longo argumento do princípio ao fim. Trad. Bluma Waddington Vilar. Rio de Janeiro: Topbooks Editora.

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Publicado

2010-12-15