Corrigir a mudez dos livros: Hipótese sobre o oral e o Escrito em Platão

Autores

  • Plínio Fernandes Toledo

Resumo

Foram insuficientes e parciais as interpretações da filosofia platônica, de Schleiermacher à Escola de Tübingen, porque não chegaram a produzir satisfatoriamente nenhuma visão de conjunto que pudesse fornecer um meio de acesso a Platão a partir de uma concepção abrangente que ressaltasse a complexidade polissêmica de cunho dialético do pensamento do mestre de Atenas. Os paradigmas hermenêuticos pautaram-se pela exclusividade e exclusão, ora ressaltando a importância da escritura, ora colocando em relevo a importância da oralidade na filosofia platônica. Não obstante, haveria uma idéia medular, que escapou à percepção dos leitores e comentaristas, a partir de cuja compreensão seria possível superar os dois momentos excludentes e traçar uma visão de conjunto que fornecesse uma perspectiva integral do pensamento platônico como síntese entre oralidade e escritura? Pois hoje arriscamos a ver que “faz parte do interior e da essência da forma platônica tudo aquilo que resulta da intenção de obrigar a alma do leitor à produção de idéias próprias.” Aqui a força do diálogo, vale dizer, da forma literária platônica, escapa às restrições, aos clichês e estereótipos advindos de más escolhas orientadas por decisões parciais e precipitadas. Ao invés de se ler o diálogo “Lê-se o simulacro do diálogo platônico”. (PUCHEU, 2007, p. 144) e é preciso retornar ao texto e esmiuçá-lo nas múltiplas direções que aponta. Esmiuçar o texto significa lê-lo com o cuidado que merece. Mas veja que quando dizemos que a leitura do texto deve ser feita com o merecido cuidado já ressaltamos a importância do texto e sua posição privilegiada no contexto do pensamento do autor.

Referências

BORGES, Jorge Luis. Cinco visões pessoais. Tradução de Maria RosindaRamos da Silva. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.

COLLI, Giorgio. La sapienza greca III. Eraclito. Milano: Adelphi Edizioni, 1996.

DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. Tradução Rogério da Costa. São Paulo: Iluminuras, 2005.

PLATON. Oeuvres completes, t. IV, parte 3, Phèdre, texto estabelecido por Claudio Moreschini e traduzido para o francês por Paul Vicaire., Paris: Les Belles Lettres 1985.

PLATONE. Sofista. Presentazione, traduzione e note di C. Mazzarelli. Milano: Rusconi, 1996.

PLATONE. Repubblica. Presentazione, traduzione e note di R. Radice. Milano: Rusconi, 1996.

PUCHEU, Alberto. A poesia e seus entornos interventivos. In: Pelo colorido, para além do cinzento.Rio de Janeiro, Beco do Azougue, 2007. P. 142.

SCHLEIERMACHER, Introdução aos diálogos de Platão. Belo Horizonte: UFMG, 2002, p. 66. Citado por PUCHEU, Alberto. A poesia e seus entornos interventivos. In: Pelo colorido, para além do cinzento.Rio de Janeiro, Beco do Azougue, 2007. P. 142.

Downloads

Publicado

2011-04-30

Edição

Seção

Artigos