“Os deuses pintam borboletas...” Memória, exílio e risveglio em Alberto da Costa e Silva
Resumo
Nos últimos meses venho estudando a densa obra poética de Alberto da Costa e Silva. Um paulistano que, ainda menino, transferiu-se para Fortaleza e fez dessa cidade, “feita para lágrimas e para adeuses”, o seu refúgio poético e sentimental, os seus sonhos de infância. Do Ceará, mudou-se para o Rio de Janeiro e depois, como diplomata, tornou-se um homem do mundo, visitando quase toda a África: Nigéria, Angola, Zaire, Senegal, Etiópia, Serra Leoa e tantos outros países da Europa e da América. Curiosamente, quando fui convidada por Angélica Soares para participar desse Colóquio sobre memorialismo na poesia, saltou-me da memória os versos, “os deuses pintam borboletas” e “Antônio,/ ensina-me a não ter medo/ de caminhar acordado”. Interessante refletir acerca da produção literária de Alberto da Costa e Silva; de um lado, eis o diplomata e historiador que se consumiu em terras distantes, que “sofreu tantos exílios simultâneos”, caminhando por terras sem fim, e, com uma consciência aguda e ativa da realidade social, escreveu inúmeros ensaios históricos sobre a África e a escravidão, ou seja, sobre a importância de conhecer a África para compreender o Brasil. Do outro lado, encontramos o poeta Alberto de contorno símbolo-modernista que reconstitui, em seus poemas, através da figura do menino (símbolo de sua infância), o ambiente familiar, a nostálgica Fortaleza. Trata-se de uma poesia que está sempre à procura do paraíso perdido e que é reencontrado a partir dos sonhos, dos afetos e do êxtase da memória. Uma escritura poética em constante estado de vigília.
Referências
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