Carne e escrivaninha: assim se escreve o filme, assim se vê o livro

Resumo

Ao ser indagado por MeÌlieÌ€s, apoÌs a primeira exibição puÌblica de cinema em 28 de dezembro de 1895, como podia adquirir um aparelho, LumieÌre respondeu ao homem de teatro que trabalhava com maÌgicas que o cinematoÌgrafo não tinha o menor futuro como espetaÌculo, era um instrumento especiÌfico para reproduzir o movimento e o puÌblico logo se cansaria dele, ainda que, no iniÌcio, se divertisse.1 Se a profecia de LumieÌre malogrou e o cinema ganhou o mundo, se Griffith tentou fazer um “cinema possiÌvel”2 e, mais tarde, acabou atropelado pelas novas esteÌticas e tendeÌ‚ncias que colocaram em xeque sua maneira claÌssica de filmar e, na distante LetoÌ‚nia, mais precisamente em Riga, nascia Serguei Mikhailovitch Eisenstein, que aÌ€s veÌsperas da Revolução Russa contava com dezenove anos e, na deÌcada de vinte, utilizaria teÌcnicas de vanguarda na montagem3 de seus documentaÌrios, acabando por revolucionar a arte cinematograÌfica ainda incipiente e Buñel, Pasolini, Resnais, Godard, Bergman, Fassbinder e um certo Glauber Rocha levaram adiante o projeto de abjurar o cinema para poder efetivamente realizaÌ-lo, Greenaway, cem anos apoÌs a invenção do cinema, lança mão dos mais avançados recursos tecnoloÌgicos, do entrecruzamento de vaÌrias linguagens esteÌticas e campos disciplinares, de sua formação erudita e hiÌbrida enquanto pintor, documentarista, instalador e, sobretudo, de um olhar anti-ilusionista e reiteradamente propõe-se a nos lembrar de que estamos, sim, vendo cinema e, portanto, ficção, artifiÌcio, trapaça.