Romper as margens do labirinto: a Nápoles de Ferrante em "A amiga genial"
Abstract
Em Nápoles, não se pode deixar de notar o misticismo mesclado à fé católica, as vielas caóticas convivendo com primores da arte arquitetônica, o anacronismo de certos hábitos mantidos geração após geração. Lá, a diferença se sobressai, a miséria do povo e a beleza da paisagem nada são além de fatos da vida cotidiana. Na Tetralogia Napolitana de Ferrante, essa cidade é o local de nascimento das personagens, e como tal serve não apenas como cenário, mas como movimento, força de construção. As duas protagonistas se reconhecem na cidade natal ao afastarem-se, perderem-se, desmarginarem-se (para usar a terminologia da série, embora aqui eu lhe confira um novo sentido), e seu "dialeto", a língua materna, soa a seus ouvidos como uma língua barbárica, um balbuciar de sons opressores que comunicam mais violência do que afeto. Em seu ensaio autobiográfico, Ferrante declara: "Quando criança e adolescente, o dialeto da minha cidade me assustava." (FERRANTE, 2017, pp.250-251). Considerando que o conceito de identidade é uma construção da linguagem (SILVA, 2014, p.76), essa relação ambígua com a língua materna passa a ser significativa de uma ambiguidade do próprio reconhecimento das personagens de Ferrante enquanto cidadãs napolitanas, pois "a identidade, tal como a diferença, (...) está sujeita a vetores de força, a relações de poder" (SILVA, 2014, p.81), que, como tais, interferem nas posições que os sujeitos assumem no mundo.Downloads
Published
2020-04-19
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Artigos
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