Três vezes Otelo ou o estigma de Desdêmona
Abstract
Um lenço, dez libras esterlinas e algumas rosas. Esses objetos resultam, respectivamente, na desgraça de Desdêmona (Otelo), Capitu (Dom Casmurro) e Madalena (São Bernardo), diria um desavisado. Mas como afirma o crítico Machado de Assis, é o caráter das personagens envolvidas que move o drama; são elas que conferem significado aos objetos, não o contrário. E as personagens são produto – sem prejuízo dos traços individuais – de seu tempo e lugar. E assim agem. Otelo, Bento Santiago e Paulo Honório são confrontados com questões próprias à época em que vivem e, cegos (o ciúme que os acomete é em última instância metáfora inequívoca do medo – Angst – diante do desconhecido), lançam mão de recursos e regras se não obsoletos, impróprios para o fim que almejam – com exceção, talvez, da personagem machadiana. Em face da incógnita – a mulher amada (se se pode falar de amor), personificação mesma do Zeitgeist –, resta a esses homens dois caminhos: a adesão ao novo mundo que se lhes apresenta diante dos olhos ou a atitude reacionária frente a ele. A força do feminino, gestante do futuro, é nos três casos vista com desconfiança. Eis, me parece, o estigma de Desdêmona, sempre por um fio de romper a ordem, perpetuada justamente por aqueles que dela pouco ou nada se beneficiam. O objetivo deste trabalho é analisar as consequências do “fato trágico” – aquilo que impossibilita a abertura para o novo – para as diferentes personagens.
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