COMBATE: TRAGÉDIA: CAMINHO
Abstract
Aristóteles elabora a lógica. Este modo de pensamento vem a constituir o fundamento das reflexões a serem realizadas pela sua filosofia. É através e em busca da lógica, por exemplo, que o estagirita chega à estrutura de concatenação das ações na tragédia grega em sua Arte Poética. A obra tomada como parâmetro para elaboração do modelo aristotélico é Édipo Tirano, de Sófocles. Ocorre que, ao lermos a primeira fala da peça, tudo já aconteceu: Édipo já dormiu com a mãe, já matou o pai, etc. Ora, se tudo já aconteceu, como pode a estrutura do drama ser baseada numa seqüência de atos? A tragédia de Sófocles se tece em torno, sim, das reflexões e sentimentos que envolvem a busca do saber. É um drama de paixões e interpretações, não de ações. Não consideramos ação aqui como o agir essencial, a poiésis, mas sim no sentido aristotélico mesmo, de realização de um feito com vistas à produção de um efeito. Um outro motivo reforça esta colocação: todo grego, do mais nobre ao mais simples, quando ia ao teatro assistir às encenações, já sabia de cor toda a seqüência de atos que caracterizavam o enredo do mito que era tema da peça em apresentação. Não iam ao teatro para ver ações, para esperar pelo final surpreendente, mas para refletirem e se emocionarem. Aristóteles também fornece uma chave para o caráter emocionante das tragédias: a hamartía -- a personagem age visando a um objetivo, mas erra o alvo. Uma das mais importantes e belas tragédias gregas é Antígona, uma peça da autoria do mesmo criador de Édipo Tirano. Além disso, é uma espécie “seqüência” desta última . Aceitando em princípio a hipótese de haver hamartía em Édipo Tirano, não se pode dizer que haja hamartía em Antígona, apesar de toda ligação e semelhança entre as duas peças .
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