Cecília e Mário - Corresondências
Abstract
A correspondência entre os poetas Cecília Meireles e Mário de Andrade, entre as décadas de 1930 e 1940, constitui material para pensarmos no valor dos diálogos e afetos e em sua importância na construção da linguagem poética. A prática da correspondência, a que Mário de Andrade foi tão afeito, pode ser pensada como estímulo à formação e afirmação da idéia de uma subjetividade que se deslindou na Modernidade, e que ganha nitidez em momentos como quando Mário sai em defesa das métricas clássicas de Cecília; vendo nelas uma possibilidade libertadora do sensível e não um obstáculo como queriam os vanguardistas. O reconhecimento dessa subjetividade “fraturada”, que expõe contradições e fragilidades, a valorização do trágico, da melancolia e o direito à tristeza parecem estar no cerne de uma lírica cuja potência se evidencia mais por esses elementos de humanidade, do que pela mera adequação a fórmulas estabelecidas por movimentos literários ou ditadas por críticas enrijecidas. A consciência da dor e a urgência da construção de uma subjetividade ativa, que possibilite a efetivação de um pensamento crítico e reflexivo, se acentuam em momentos históricos conturbados, como nos anos do diálogo entre Mário e Cecília, e como nesse século XXI; tempos em que parece ter muito a dizer uma lírica que toma como pertinente o título do primeiro livro de Mário de Andrade: “Há uma gota de sangue em cada poema”.
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