Paradoxos do playground moderno: um convite para repensar o débito com a criança na cidade
Keywords:
Criança, Modernidade, Estética, MobilidadeAbstract
A paisagem urbana reconfigurada pela modernidade, refletida no distanciamento entre casa e rua, priorizou a escala panorâmica em detrimento da dimensão humana, com efeitos significativos sobre a experiência sensorial da criança urbana. No playground moderno, a cidade especialista aloca espaços específicos a uma recreação passiva, muitas vezes obstruindo uma experiência genuína da cidade. Compreender a criança em seu espaço social, ainda que indispensável à concepção de melhores políticas urbanas é insuficiente se não endereçar uma crítica da modernidade. Ao apontar uma demanda por maior sensibilidade crítica quanto à espacialidade da vida social, neste ensaio refletimos acerca de um débito com a criança, o espaço perceptivo e a experiência humana no âmbito do planejamento urbano. O pensamento pós-estruturalista de Jean-François Lyotard direciona um esforço crítico que supera o viés nostálgico, estimula a revisão de pressupostos de sistemas técnico-racionais do desenvolvimento capitalista, e provoca uma reflexão sobre um potencial de resistência associado à infância que parece negligenciado pelo planejamento urbano. Uma abordagem que contempla as relações transformadoras entre matéria, sentimentos e linguagem pode nortear uma estética da mobilidade que estimule as crianças a experiências sensoriais mais ricas na cidade como playground, redesenhando o viés essencialista da cidade.References
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