Paradoxos do playground moderno: um convite para repensar o débito com a criança na cidade

Authors

  • Adriana Tenório Cordeiro Universidade de Pernambuco, UPE
  • Sérgio Carvalho Benício de Mello Universidade Federal de Pernambuco, UFPE

Keywords:

Criança, Modernidade, Estética, Mobilidade

Abstract

A paisagem urbana reconfigurada pela modernidade, refletida no distanciamento entre casa e rua, priorizou a escala panorâmica em detrimento da dimensão humana, com efeitos significativos sobre a experiência sensorial da criança urbana. No playground moderno, a cidade especialista aloca espaços específicos a uma recreação passiva, muitas vezes obstruindo uma experiência genuína da cidade. Compreender a criança em seu espaço social, ainda que indispensável à concepção de melhores políticas urbanas é insuficiente se não endereçar uma crítica da modernidade. Ao apontar uma demanda por maior sensibilidade crítica quanto à espacialidade da vida social, neste ensaio refletimos acerca de um débito com a criança, o espaço perceptivo e a experiência humana no âmbito do planejamento urbano. O pensamento pós-estruturalista de Jean-François Lyotard direciona um esforço crítico que supera o viés nostálgico, estimula a revisão de pressupostos de sistemas técnico-racionais do desenvolvimento capitalista, e provoca uma reflexão sobre um potencial de resistência associado à infância que parece negligenciado pelo planejamento urbano. Uma abordagem que contempla as relações transformadoras entre matéria, sentimentos e linguagem pode nortear uma estética da mobilidade que estimule as crianças a experiências sensoriais mais ricas na cidade como playground, redesenhando o viés essencialista da cidade.

References

ARIÈS, Philippe. História social da infância e da família. Trad. Dora Flaksman. Rio de Janeiro: LCT, 1978.

AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Trad. Maria Lúcia Pereira. 9. ed. Campinas: Papirus, 2004.

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Trad. Joaquim José Mouta Ramos et al. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

BAUMAN, Zigmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

________. Modernidade e ambivalência. Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.

BECK, U. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: GIDDENS, Anthony; BECK, Ulrich; LASH, Scott. Modernização reflexiva. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Editora Unesp, 1997.

Cenário Econômico 2050. Série Estudos Econômicos Nota Técnica DEA XX/15. Empresa

de Pesquisa Energética – EPE. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/Estudos/Documents/PNE2050_Premissas%20econ%C3%B4micas%20de%20longo%20prazo.pdf>. Acesso em: 01.09.2016.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Trad. Ephrain Ferreira Alves. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

DURING, Simon. The cultural studies reader. 2. ed. London: Routledge, 1993.

FOUCAULT, Michel. Power/Knowledge: selected interviews and other writings 1972–1977. Trad. Colin Gordon. New York: Pantheon Books, 1980.

FREEMAN, Claire. Colliding worlds: planning with children and young people for better cities. In: GLEESON, Brendan; SIPE, Neil (org.) Creating Child Friendly Cities: reinstating kids in the city. New York: Routledge, 2006, p. 69-85.

GEHL, Jan. Cidades para pessoas. Trad. Anita Di Marco. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

GHIRALDELLI Jr., Paulo. A infância na cidade de Gepeto ou possibilidades do neopragmatismo para pensarmos os direitos da criança na cultura pós-moderna. Estilos da Clínica. Dossiê, vol. 4, n. 6, 1999, p. 10-17.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

GLEESON, Brendan. Australia’s toxic cities: modernity’s paradox? In: Creating Child Friendly Cities: reinstating kids in the city. New York: Routledge, 2006, p. 33-48.

GLEESON, Brendan; SIPE, N. Reinstating kids in the city. In: Creating Child Friendly Cities: reinstating kids in the city. New York: Routledge, 2006, p. 1-10.

GRAHAM, S.; MARVIN, S. Splintering Urbanism: Networked infrastructures, technological mobilities and the urban condition. Routledge: London & New York, 2001.

HILLMAN, M.; ADAMS, J.; WHITELEGG, J. One False Move: A Study of Children’s Independent Mobility. London: Policy Studies Institute, 1990.

HOUAISS, A.; VILLAR, M.S. Houaiss: Dicionários da Língua Portuguesa. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

HOWARTH, D.R. Poststructuralism and After: Structure, Subjectivity and Power. London: Palgrave Macmillan, 2013.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 – POF. Rio de Janeiro, 2010.

JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

JAMESON, F. A lógica cultural do capitalismo tardio. In: Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1997, p. 27-79.

KALLIO, K. P., HÄKLI, J. Political geography in childhood, Political Geography, 29(7), p. 357-358, 2010.

LANG, D.; COLLINS, D.; KEARNS, R. Understanding modal choice for the trip to school. J. Transp. Geogr. 19, 509-514, 2011.

LYOTARD, J. F. Discourse, Figure. Trad. Antony Hudek e Mary Lydon. Minnesota: University of Minnesota Press, 2011.

________. The Inhuman: Reflections on Time. Cambridge: Polity Press, 1991.

________. The postmodern condition: a report on knowledge. Tradução do francês por Geoff Bennington e Brian Massumi. Minnesota: University of Minnesota Press, 1984.

MALPAS, S. Jean-François Lyotard. Routledge Critical Thinkers. London and New York: Routledge, 2003.

MASSEY, D. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

NAUKKARINEN, O. Aesthetics and Mobility: A Short Introduction into a Moving Field. Contemporary Aesthetics, 2005. Disponível em: <http://www.contempaesthetics.org/newvolume/pages/article.php?articleID=350&searchstr=aesthetics+and+mobility>. Acesso em: fev 2015.

PETERS, M. Pós-estruturalismo e filosofia da diferença: uma introdução. São Paulo: Autêntica, 2000.

PRIGGE, W. Reading The Urban Revolution: space and representation. In: GOONEWARDENA, K. et al. (org.) Space, difference, everyday life reading Henri Lefebvre. Abingdon: Taylor & Francis, 2008, p. 46-61.

SANTAELLA, L. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.

SARUP, M. An introductory guide to post-structuralism and postmodernism. 2. ed. London: Harvester Wheatsheaf, 1993.

SCHMID, C. Henri Lefebvre’s theory of the production of space: towards a three-dimensional dialectic. In: GOONEWARDENA, K. et al. (org.) Space, difference, everyday life reading Henri Lefebvre. Abingdon: Taylor & Francis, 2008, p. 27-45.

SKELTON, T. Young People, Children, Politics and Space: A Decade of Youthful Political Geography Scholarship 2003-13. Space and Polity, vol. 17, n. 1, p. 123-136, 2013.

SKELTON, T.; GOUGH, K. V. Young people’s im/mobile urban geographies: introduction, Urban Studies, vol. 50, n. 3, p. 455-466, 2013.

SOJA, E. W. Postmetropolis: Critical Studies of Cities and Regions. Malden (Massachussets): Blackwell Publishers, 2000.

URRY, J. Societies. Sociology beyond Societies: mobilities for the twenty-first centuries. Routledge: London, 2000.

VOGEL, A. Como as crianças veem a cidade. Rio de Janeiro: Pallas: Flacso: UNICEF, 1995.

WARD, C. The Child in The City. Great Britain: Pantheon, 1978.

WILLIAMS, J. Pós-estruturalismo. Petrópolis: Vozes, 2012.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global status report on road safety. Genebra: WHO Press, World Health Organization, 2015.

WRIGHT, G.; RABINOW, P. ‘Spatialization of power: a discussion of the work of Michel Foucault’, and ‘Interview: space, knowledge and power’, Skyline 1, 1982.

Published

2020-02-14