Portugal: luta anticolonial e a perenidade do surreal em duas obras
DOI:
https://doi.org/10.35520/metamorfoses.2022.v19n2a57750Palavras-chave:
surrealismo, Portugal, poesia, cinema, anticolonialismoResumo
Pretende o presente artigo dar relevo à surrealidade presente tanto no filme de Manoel de Oliveira quanto no livro de Patrícia Lino referidos no título. Por surrealidade entendido tanto a questão da linguagem (literária e cinematográfica) como a da imagem (poética e do movimento). Partindo daí, pretende-se identificar nas obras o extrato surrealista que se identifique também com a luta anticolonial e antirracional. Já de início se pode dizer que a obra de Patrícia Lino, ao criar uma espécie de guia paródico do colonialismo português, usa de elementos surrealistas, entre outros, para corroer pela ironia e pelo chiste a pompa colonialista que ainda reside na sociedade portuguesa. O filme de Manoel de Oliveira, ao partir de uma narrativa aparentemente realista das guerras coloniais portuguesas em África, abusa das imagens surrealistas para narrar a história de mando e dominação portuguesa no mundo, intercalando o realismo dos soldados do colonizador enfrentando os colonizados em batalhas sangrentas já nos estertores dessas guerras, com o surrealismo de matriz onírica para narrar as derrotas do “passado glorioso” de Portugal. Por fim, nesse embate entre a modernidade, o racionalismo e a surrealidade, Aimé Césaire será fundamental para situar essa crítica no mundo pós-colonial.
Referências
APEL, Karl Otto. Estudios éticos. Tradução de Carlos de Santiago. México-D.F: Fontamara, 2004.
BENJAMIN, Walter. Ensaios sobre literatura. Tradução João Barrento. Porto: Porto Editora, 2016.
BESSA-LUÍS, Augustina e OLIVEIRA, Manoel de. Um concerto em tom de conversa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
BLANCHOT, Maurice. A parte do fogo. Tradução Ana Maria Scherer. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
BRETON, André. Manifestos do surrealismo. Tradução Sérgio Pachá. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2001.
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução de Claudio Willer. São Paulo: Veneta, 2020.
CESARINY, Mário. A intervenção surrealista. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997.
GLISSANT, Édouard. La cohée du lamentin. Paris: Gallimard, 2013.
HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções. Tradução Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Tradução Carlos Henrique Pissardo. São Paulo: Editora Unesp, 2015.
LEBRUN, Jean-Pierre. Um mundo sem limite. Tradução Sandra Regina Felgueiras. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004.
LEMINSKI, Paulo. Inutensílios. Ensaios e anseios crípticos. Campinas: Editora Unicamp, 2012, pp. 85-87.
LINO, Patrícia. Contra a anestesia, a gargalhada corrosiva: sobre o processo de escrita d’O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial. Texto Poético, v. 17, n. 32, pp. 225-247, jan/abr 2021.
LINO, Patrícia. O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial. Juiz de Fora: Edições Macondo, 2020.
LÖWY, Michael. A estrela da manhã (surrealismo e marxismo). Tradução Eliana Aguiar. São Paulo: Boitempo, 2ª ed. 2018.
MARTELO, Rosa Maria. O cinema da poesia. 2ª ed. Lisboa: Documenta, 2016.
MEYER, Arno J. A força da tradição (a persistência do antigo regime). Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
NOGUERA, María. “La superación de los mitos fundacionales del imperio luso en el cine de João Botelho y Manoel de Oliveira”. Communication & Society /Comunicación y Sociedad, Vol. 27, n. 3, 2014, pp. 209-229.
ROUANET, Sérgio Paulo. A razão cativa. São Paulo: Brasiliense, 1985.
WINOCK, Michael. O século dos intelectuais. Tradução Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).