RELATOS DE EXPERIÊNCIA EM TORNO DA PARÁBOLA DO PORCO-ESPINHO
Por: Elisabete Nascimento, Taís dos Santos Abel, Chris Jones, Cíntia Acosta Kütter, Nathália Rangel, Nathália Guedes, Lisiane Niedsberg, Fernanda Oliveira, Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva
(Produção coletiva dos integrantes do grupo de pesquisa Escritas do corpo feminino, da Fac. de Letras da UFRJ)
Assim como em certos dias a descida é feita na dor, também pode ser feita na alegria[1]
A parábola do porco-espinho é uma metáfora usada pelo filósofo Arthur Schopenhauer para se referir às dificuldades de convívio entre os seres humanos. Os porcos-espinho buscavam se proteger do inverno rigoroso, no calor da companhia de outros. Mas, com a proximidade dos corpos, os espinhos causavam-lhes feridas. Diante da dor, eles se afastavam. Com o aumento do frio, os animais voltavam a se juntar e, novamente, os espinhos os machucavam. Isolados, o frio os ameaçava de extinção. Juntos, os espinhos os feriam. Qual a distância de convívio para que a proximidade entre os humanos, comparados a porcos-espinho, não nos incomode, e o afastamento não nos fira com a solidão? Como o único animal que tem consciência de si, de seus dilemas, animal tão frágil, errático, gregário e inteligente conseguirá enfrentar a parábola do porco-espinho?
Estas inquietações nos inspiraram a produzir um texto coletivo com os relatos de experiências em torno dos espinhos, metáfora dos sintomas do isolamento, no contexto da pandemia. A ideia surgiu em uma das reuniões semanais do grupo de pesquisa Escritas do corpo feminino, coordenado pela professora Maria Teresa Salgado. Além das reflexões acadêmicas, o grupo de pesquisa produziu um espaço singular de escrita acadêmica, de troca e de interação, mas também proporcionou um lugar de escuta onde os sentimentos, anseios, dúvidas, inseguranças, conflitos e amorosidades nos atravessaram, permitindo achados e aprendizados sobre nossas vozes, memória e pertencimento... Acredito que, exatamente, essa especificidade fomentou ainda mais a ideia de produzir um texto, a várias mãos artesãs, que refletisse nossas inquietações.
Colocou-se diante de nós o desafio de pensar qual era o espinho de cada um. Espinhosa tarefa é, para o grupo, falar sobre os nossos dilemas em uma perspectiva não teórica, própria às exigências acadêmicas, mas como relato de experiência. Neste gênero, emergem distintas percepções, sentimentos, pressupostos, contradições, e o texto materializa uma memória do tempo presente, diante da conjuntura de calamidade. Certamente, isso nos tirou de nossa zona de conforto, e nos fez pensar em nosso relato como lugar disponível à escuta terapêutica, à(s) leitura(s) e, quiçá, de saúde mental e de felicidade.
Os relatos possibilitaram ao sujeito falar sobre o que o faz sofrer. Daí resulta a importância deste lugar de escuta que materializa a memória a partir de uma experiência traumática compartilhada, neste texto coletivo. Fala-se, relata-se e escreve-se para inscrever-se e não adoecer. Quando o indivíduo é privado da conexão com a realidade, isso gera adoecimento. Quando o indivíduo fala, é possível desadoecer.
Ainda que a parábola do porco-espinho seja pertinente como metáfora para o isolamento imposto pelo Covid19; não há precedentes, em nosso século XXI, para um isolamento dessa natureza e magnitude. O afastamento é compreendido, por alguns, como punição ou castigo por nossos atos erráticos e nos impele ao enfrentamento da solidão, quer sozinhos e/ou acompanhados. O caráter ambíguo do isolamento é um grande paradoxo para o gregário da condição humana. O isolamento nos impede do convívio. O isolamento também nos obriga a convívios forçados. E desobedecer ao isolamento é risco de morte.
Desafiador sentir tristeza, ira, angústia, pânico, refletir sobre estes e produzir um texto coletivo que oferecemos aos leitores. Inspirador é sentir tudo isso e colocar em prática uma leitura que nos aproxima ou nos distancia, dando ensejo a formas inesperadas de dialogismo. Instigante é dialogar com a parábola do filósofo pessimista, Schopenhauer, para quem a vida é uma espécie de eterno sofrimento, e a morte é o fim último de nossa existência, a meta de todo ser vivo. Como encarar tais reflexões ante a iminência da morte em massa, decorrente da exposição ao novo corona vírus, ameaça derradeira, silenciosa, invisível e potencialmente desestruturante de nossa sanidade?
Como sobreviver em face a tantos espinhos? É a inquietação que nos move. A vocês, leitor e leitora, oferecemos este texto “costurado”, alinhavado, tecido como uma tessitura de dor e afeto. Esperamos um diálogo “espinhoso”, profícuo e inspirador, mesmo que à distância. Nossa existência se expressa em um movimento pendular, onde o tédio e a dor são o tique-taque. Coube a mim, a espinhosa tarefa de apresentar este texto coletivo cerzido do movimento pendular que nos impõe: sensação de sufocamento; convívio inevitável e forçado; depressão; solidão; transtorno do pânico, sensação de desamparo, dor... E para ampliar, exponencialmente, o movimento pendular, a pandemia e o isolamento são por tempo indeterminado. Sem esquecer a importância da indeterminação, o esforço de cada voz neste grupo é a determinação em encontrar a distância im-precisa da palavra literária em busca da felicidade e do amor.
Os espinhos em tempo de pandemia.
A depressão, o transtorno de pânico e as crises de estresse são como espinhos em tempos de pandemia, pois o que mais nos consola diante das crises é o afago e a atenção dos próximos. Porém, essas doenças sugestionam também um isolamento voluntário, uma vez que é extremamente cansativo conversas acolhedoras, mas que não dão conta de tanto sofrimento. Viver nesse paradoxo é angustiante. É vontade enorme de fugir para fora de si, e aquele pânico de multidão sofre uma conversão, e o pensamento que vem é que aquilo que o salvará dessa situação é estar no meio dela.
As pessoas com quem se divide o isolamento social se tornam insuportáveis, pois fazem o doente se sentir desrespeitado, já que a depressão e afins são instabilidades invisíveis. A pessoa debilitada na alma se sente julgada o tempo todo como preguiçosa, inativa, incapaz, um estorvo para os seus.
O desafio mais espinhoso nos períodos de pandemia é ser mãe de uma criança autista. Essa mãe tem que conviver com a criança mais tempo do que antes. Tempo esse que era dividido com as sessões terapêuticas e com a escola, agora é todo da mãe e filho. Seria romântico se nessa convivência não houvesse crises de choro e de autolesão por parte daquela criança que tem dificuldade em aceitar a mudança de rotina. E a mãe precisa segurar a estrutura terapêutica nas mãos como uma malabarista, rezando todos os dias para a sua criança não regredir.
Então, aumentam-se as doses de medicação. Da mãe e da criança. Difícil demais suportar esse isolamento sóbrios. Essa postura da mãe, criticada por muitos, se dá porque ela percebe que, neste momento, ela realiza as funções de terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia, musicoterapia e professora dessa criança. Cabe ressaltar que esses profissionais, além da responsabilidade com o tratamento, são funcionários autônomos que estão se reinventando diante deste momento crítico. Por conta de muitos receios, cada um deles passa uma gama de atividades para mãe trabalhar com a criança. Porém, ela não fez curso, nem treinamento para isso.
A mãe adoece, só que não pode esmorecer, já que tem as responsabilidades acadêmicas, terapêuticas, do trabalho e domésticas. Onde está o pai? Trabalhando horas a fio para cuidar de pessoas carentes, a mando de seu chefe. Sua mente fica completamente instável, sabendo que sua esposa e criança são realmente as carentes que lhes importam. No entanto, não podia ser egoísta neste momento.
Buscando uma saída desesperada, a mãe sai de casa. Foge. Passa um dia fora e combina com uma amiga, dona de salão, para abri-lo só para atendê-la. Naquele momento, esquece que tem filha problemática, que tem Covid, que tem responsabilidades acadêmicas e do trabalho. O foco era reconstruir sua autoestima mesmo em tempos de guerra. E assim foi feito. Se viu realizada, bonita e feliz como há muito tempo não sentia. Só que não tinha jeito, tinha que voltar pra casa. Voltou dirigindo, lentamente, pensando se não havia uma opção de desviar o caminho. Mas não tinha. Tudo fechado, ruas desertas. E assim, aquela autoestima de papel foi se desfazendo e, ao chegar em casa, bastou um sopro para que o papel se desfizesse por completo. Talvez esse dia e a exposição ao risco tenham sido em vão. Agora é esperar 14 dias para saber.
Oficina
Imagino esse momento de descomparado sentimento como uma oficina de desregular o cotidiano. O que eu gostaria de dizer é que, neste tempo de desgosto e desengano, as coisas parecem ganhar sentido novo para mim. Nunca suspeitei que a má saúde desse mundo pudesse me deixar mais atento e sensível, nos domínios do demasiado. É como se agora eu pudesse fazer lista dos cheiros e sons que no dia por dia vinha perdendo.
Aqui, dentro deste isolamento, eu vou aprendendo a desdobrar o mundo lá de fora. Um mundo que sempre esteve perto demais para eu perceber. Vou aprendendo a sorrir com muito pouco: sempre de coisas levianas e descuidosas.
Não, da presença do novo coronavírus não se pode ter esquecimento; mas se, por um pouco, me faço de esquecido, é para que, diante desses vivos detalhes ao meu redor, eu possa despertar para o que está acontecendo no mundo. A saudade e a incerteza machucam. Porém, estão servindo mais para eu repassar meu coração, tentando reconectar minha memória ao espírito e a sequência da vida.
No começo da manhã, os bem-te-vis parecem fazer música mais alta do que antigamente, sem querer dão aqueles gritinhos fundos de melodia. Acabando o dia, posso sentir por aqui o cheiro dos risos imprevistos das crianças, por tempo que nem se acaba. Logo quando chega de noite, sinto pelo corpo todo o aroma dos diferentes tipos de comida que os meus vizinhos têm para janta: pareço olhar ou enxergar de perto uma porção de meninas e meninos sentados no chão, esperando a comida, inventando brincadeiras de todo tipo do arco-da-velha. E eu sempre desvendando, recolhendo, anotando. Tudo em uma presença muito curta, como se estivessem acontecendo na minha casa, ao mesmo tempo. Cada detalhe, uma renovação de presença. E percebo que este tipo de tarefa permite trazer, mais perto ainda, o que a gente pensa esquecido. Quem sabe, eu aprenda a misturar em um único signo da mesma lembrança o cheiro e o som do pipoqueiro, que parava no final de tarde na beira da calçada.
Mas, de-repente nem todo esse lance de ficar atento é vantagem. Sempre quando entra a madrugada, de algum apartamento ali de fora, eu posso ouvir choro de mulher – como se ela precisasse chorar, toda-a-vida, para não sentir mais dor. Pelas batidas da pancada de longe, percebo que é uma mulher sentada no chão, em um canto, querendo morder a boca para não chorar mais.
Um dia ou outro, a dona daqui da frente de casa continua a gritar com seus dois filhos autistas. E às vezes eu sei que eles correm para o quarto, tapam os ouvidos com as mãos e apertam os olhos no travesseiro. E ela cuida assim deles? Seus métodos se resumem a barulhos de tapas e escândalos desesperados. Só porque um gosta de roubar uma bolachinha de goiabada antes do almoço, e o outro adora demorar contente tomando banho.
Mas não é sempre que consigo aguentar, e nem sei até quando vou conseguir continuar envolvido com a oficina de desregular o cotidiano. Difícil a gente formar muita tranquilidade nesta hora de perigo. Ficar à toa e ver o dinheiro indo embora, por vezes estremece a espera em agonias. O desespero entre o vírus e a fome pode de repente adivinhar os maiores medos da gente.
Por isso, é importante descobrir outros lugares com a oficina de desregular o cotidiano. Lugares que sempre estiveram escondidos nos silêncios desperdiçados no dia-a-dia. No fim da história, inventar memórias novas pode fazer desaparecer as angústias da rotina.
A oficina de desregular o cotidiano me ensina a ter um olhar mais calmo com as coisas do mundo. Sem ela, acho que não conseguiria apreciar e passar pelos aspectos da vida que às vezes não são tão bonitos assim. O sentimento deprimente da quarentena é real, as consequências esbarram cada vez mais perto. Milhares de contaminados e inúmeros mortos vão aparecendo lá fora. No outro dia, morreu Vovó Lurdes dessa má doença. Então, eu me pego no caminho contrário, interessado em assuntos de intimidade melhor com mundo.
Decerto, é útil resistir, útil perceber, útil conhecer os conflitos.
Amor nos tempos do coléra, digo, da Covid-19
Voltar de uma viagem para casa é sempre bom. Não em tempos de pandemia mundial. Todos os dias acordo com meu espinho sobre a cabeça a perfurar minha sanidade: será que hoje vou sentir dor de garganta novamente? Será que a falta de ar será a mesma de sempre ou amanhã será pior? Será que meus filhos estão seguros? Como uma mãe – asmática – pesquisadora/professora – dona de casa sobreviverá a esse período (indeterminado) de isolamento social? Ainda não sei. Quando escutava algumas pessoas relatando que estavam "pirando" por estar em casa, eu logo pensava: "eu tenho essa rotina, então não pira, ok?". Porque trabalho com pesquisa e ministro aulas uma vez por semana fora de casa, logo pensei que seria tranquilo... Apenas não sei até quando essa "tranquilidade" será possível.
Ser mãe em tempos de Covid-19 demanda, além de disposição, uma criatividade acima da média. Longe da família, que mora no Rio Grande do Sul, e dos amigos, porque atualmente resido na tão tão distante Belém do Grão Pará, mais uma vez, tento não pirar...Tenho um filho de dezesseis anos que, como bom adolescente da era digital, se vira "muito bem", mantendo contato com os amigos e "se divertindo" on-line, coisa que a minha geração teve que aprender. Às vezes vem para o meu colo sem dizer uma palavra, mas sinto a sua insegurança que requer meu carinho nas ondas do seu cabelo. Enquanto o caçula de cinco anos pergunta diariamente quando voltará para escola, já que agora vive uma rotina "on-line" que demanda seu "popô" sentado na cadeira sem nenhuma interação com os colegas, pois a regra é clara: desliguem seus microfones ao entrar na sala virtual! Quando poderá brincar na pracinha? Quando poderá comemorar com seus amigos o aniversário tão sonhado de cinco anos, planejado desde setembro? Inventar, literalmente, uma estratégia diferente para eles tem sido meu exercício diário de criação, o meu recriar diário. O que fazer para as refeições? Para o lanche, para que mantenham uma alimentação saudável e não, não fiquem doentes? Chato e estressante? Sim! Mas o que toda essa experiência tem me proporcionado? Mais refeições em família, o que normalmente nossa rotina agitada não nos permitia. Para fazermos todas as refeições juntinhos, sobrava apenas o final de semana. Mais risadas juntos! Mais tarefas divididas! Mais arranca-rabos! Mais livros lidos! Mais ideias para minhas aulas! Avanço nas pesquisas científicas! (Ou não, porque há dias e dias; em alguns me sinto altamente produtiva; em outros, uma geleia humana que só quer cama).
Por outro lado, muito preocupada com a situação de uma cidade que não possui o mínimo de estrutura de saneamento básico, políticas públicas que pensem nos mais carentes, que são a maioria esmagadora em Belém. Enquanto uns desfilam de Ferrari laranja pelo bairro (sim! habemus Ferrari), do outro lado da rua uma família de indígenas venezuelanos implora por COMIDA. Eles também pedem dinheiro porque os que não conseguiram "vaga" nos abrigos improvisados pela prefeitura precisam pagar diariamente, em média, vinte e cinco reais por um quarto fétido, sem aberturas para ventilação (estou falando de Belém!, umidade relativa do ar na casa dos 90%, um dia sim, o outro também"). Cerca de trinta pessoas ocupando um mesmo espaço (ironia? óbvio, porque estou falando de algo em torno de 4m2). Muitos já estão apresentando sinais da doença e morrendo nas unidades de pronto atendimento porque não há recursos.
Continuarei batendo minhas panelas na janela aos gritos de Fora Bolsonaro! Tentarei manter minha sanidade, enquanto for possível, me reinventando todos os dias. Por enquanto, tudo aqui continua dividido, misturado, chorado, discutido e acima de tudo amado.
Fiquem bem e em casa!
A ansiedade como um espinho no isolamento social
Como lidar como os espinhos no período de isolamento social? A baixa produtividade, a dificuldade de fazer exercícios físicos e manter uma rotina saudável em casa, a sobrecarga de trabalho com as aulas online, cobranças excessivas da escola, a vida acadêmica desacelerada e a culpa por sentir que não estou dando conta de todas as atividades como deveria, tudo é espinho.
Respire, se acalme, planeje, não se cobre tanto. Respire, tente criar uma rotina de trabalho e estudo, use menos as redes sociais, foque no que realmente importa. Respire, medite, encontre tempo para apreciar sua companhia, escreva, leia mais, não procrastine. Respire, reflita sobre seus privilégios, sobre o quanto é maravilhoso estar sozinha, em paz, em silêncio. A mente não para, o coração acelera, o sono não vem, os dias passam e eu sigo fazendo somente o que eu não posso adiar.
Em um dos atendimentos na psicoterapia, falando sobre a mente acelerada no isolamento social, a psicóloga perguntou: e agora, como você fará para lidar com a ansiedade? Não consigo encontrar essa resposta. São trinta e um dias de isolamento social e é difícil manter o otimismo em tempos sombrios como estamos vivendo. Eu evito assistir aos noticiários para não entrar em pânico; as questões políticas do desgoverno Bolsonaro são aterrorizantes. Em um cenário nada favorável, o que será de nós, diante de tamanha incompetência e irresponsabilidade que coloca o lucro acima da vida humana?
Enquanto professora, preocupo-me com a saúde mental dos meus alunos e colegas de trabalho que, como eu, estão sobrecarregados por atividades de um sistema que visa mostrar serviço sem qualquer preocupação em relação à qualidade de ensino. Como pesquisadora, sinto falta da minha rotina na universidade e dos encontros que inspiram à leitura e à produção de textos. Viver uma pandemia, no ano da minha dissertação, tirou tudo dos eixos e trouxe a sensação de improdutividade que tem sido um dos motivos de tamanha ansiedade. Fiquemos em casa e sigamos na luta!
Espinho
Em meio ao tempo de “não há tempo a perder”, paramos. Não porque queremos, mas porque o nosso direito de ir e vir deixou de existir, dando lugar à necessidade de nos confinarmos. Ficar em casa, ficar longe de tudo e de todos. No entanto, paradoxalmente, encontramo-nos perto de nós mesmos e daquilo que, de certa forma, sempre esteve conosco, porém, havia sido esquecido ou propositalmente guardado.
Nesse tempo de pandemia, vi-me obrigada a lidar com aquilo que sempre foi um incômodo, uma indagação e, provavelmente, motivo de muitos dos meus questionamentos e frustrações: a relação com a minha mãe e o peso da figura dessa mulher na minha trajetória. Costumamos aprender, pois assim nos foi ensinado, que a pesquisa acadêmica e seus questionamentos precisam e devem ser fundados a partir de um bom e contundente embasamento teórico; contudo, em meio ao caos do isolamento social, percebi que muitas das motivações que me movem intelectualmente encontram resposta na dor da experiência do que se viveu, ou do que se gostaria de ter vivido. Dessa forma, olhando para essa mulher que me deu a vida e observando de que maneira a nossa relação foi construída, consigo entender, pela primeira vez, o porquê de ansiosamente pesquisar a figura da mulher e os lugares que lhe são imputados pela sociedade.
Desde nova, por ser a primeira filha, uma grande expectativa foi gerada sobre mim. E eu, que não pedi por expectativa nenhuma, precisei correr atrás de realizá-la. Escutei, desde muito pequena, o quanto eu havia sido desejada e planejada por meio de comentários incisivos da minha família. Soube que o período da minha gestação foi de extrema dor e sofrimento para a minha mãe, que havia passado por uma gravidez de risco. No entanto, tudo aquilo que me contavam, de um passado do qual eu não tenho memória, não condizia com a relação que nós, mãe e filha, vínhamos construindo.
A minha trajetória de vida foi construída pelas mãos do medo de não conseguir ser a filha com a qual a minha mãe sonhava. Filhos? Casamento? Não, nunca quis ou vislumbrei essas possibilidades. Tenho, nas lembranças mais remotas, momentos bastante nítidos do olhar dela de decepção e da voz que muitas das vezes afirmava não merecer uma filha como eu. Consigo escutar as inúmeras indagações retóricas jogadas ao céu de por que ela havia escolhido esse caminho e, assim, por muito tempo, além de carregar a culpa extremamente pesada e cruel de ser a causa da infelicidade de minha mãe, me impus a tarefa diária de me encaixar naquele padrão pelo qual ela esperava e ansiava. Só mais tarde, quase ontem, em meio ao universo da literatura feminista e todos os debates que ela me proporcionou, percebi que, na verdade, ao me encaixar nos padrões, eu a encaixava também.
Sempre fugi do contato diário com ela, pois sempre foi dolorido. Desde que ganhei o mínimo de autonomia, buscava, dividindo o mesmo teto, não o dividir ao mesmo tempo com ela. Eu me afastei dela e de suas cobranças que inculcaram mágoas e marcas confundindo, em mim, aquilo que eu era com aquilo que eu pensava que deveria ser. E agora, nesse período insano de isolamento que nos foi imposto, literalmente sem premissas, me vi obrigada a olhar para ela de novo e, acima de tudo, a olhar para nós. Como nós estávamos uma na outra, ambas pedindo socorro.
Suspiro. Um suspiro de compreensão se deu no momento em que percebi, na figura da minha mãe, a tentativa infindável de alcançar muitos dos lugares comuns que são impostos à mulher, desde sempre, pela sociedade patriarcal que nos forma e rege. Diferente de mim, ela não pôde estudar, não teve acesso a nada além do que suas avós, tias, irmãs e mãe puderam proporcionar naquela época: a manutenção de padrões, a ocupação de um lugar que outrora já fora estabelecido. Entendi, como em um estalo, que era a partir de mim, com um olhar desvendado e crítico, que poderia não só me encontrar e construir, conforme os caminhos que escolhesse, mas também apontar, de certa forma, novas possibilidades de caminhos para ela.
Durante esse período turbulento, no qual me vejo diante de um dos meus maiores medos, entendi que eu devo, posso e vou olhar com carinho, solidariedade e respeito, para cada mulher, buscando compreender sua história pregressa e cada marca que a constituiu, mas que nada disso adiantará se, numa primeira instância, eu não me voltar para dentro, para dentro da minha própria casa. Discutir a mulher e o seu universo vai muito além de uma pesquisa acadêmica, é meta de vida.
Negros, literalmente, em cárcere privado na quarentena
O meu espinho é uma dor que carrego desde que nasci, aliás, não só eu, mas todo o meu povo. Alguns sentem essa dor, porém não sabem o motivo, outros sabem que essa dor existe desde o período da escravidão.
Sou uma mulher negra. Então convivo com o espinho da desigualdade que o povo negro enfrenta diariamente, o racismo. Além disso, minhas pesquisas e projetos sempre são voltados para a temática étnico-racial, porque é mais que necessário que pessoas negras com letramento racial falem sobre suas experiências e seus estudos em primeira pessoa. Diante de uma pandemia que assola o mundo, embora as pessoas digam que o covid-19 não escolhe raça, sabemos que o povo negro não tem acesso aos mesmo benefícios que os não-negros. Nos EUA, por exemplo, já está sendo divulgado que quem tem morrido mais pelo covid-19 são os negros, por dificuldades de acesso a saúde. Sim, isso ocorre naquele país que o Brasil
vive reverenciando e que o atual Presidente da República mimetiza. Nós já sabemos que pessoas no Brasil serão as mais atingidas. Mas vamos a minha quarentena.
Mandaram que ficássemos em casa, por causa do coronavírus. Pois nós ficamos e fomos colocados em Cárcere privado... Não, não é um conto, não é uma história fictícia, foi certamente o dia mais traumático que já vivenciamos. Apesar de tudo, acreditamos que todos temos que ficar em casa, só que mais atentos e com nossas casas fechadas, se é que isso é possível para o “povo negro pobre”, (eis que me vejo obrigada aqui a uma redundância) que não tem condições de comprar grades ou câmeras para proteção e, muitos vezes, nem comida.
Tudo isso aconteceu no dia 23 de março de 2020, numa segunda-feira, na zona leste de Porto Alegre/RS. O dia em que um celular, um fone de ouvido, uma professora negra atenta do outro da linha, outra professora ágil, nossa vó ancestral Ariocilda Niedsberg, nossas crenças, nossa racionalidade de não reagir e a força de Zumbi dos Palmares nos salvaram, depois de 45 minutos de um assalto com cárcere privado...
Eu estava morando provisoriamente com alguns familiares, e há uma semana tentávamos seguir as regras da quarentena, quando um homem, uma mulher e um adolescente, todos brancos, nos tornaram reféns dentro de casa. Sob a mira de uma arma, fomos amarrados e torturados psicologicamente. Numa casa de madeira alugada, simples e com vários problemas estruturais, éramos quatro adultos negros preocupados com a pandemia, já que apostávamos que seria um ano de voos mais altos para alguns de nós. Além do coronavírus, que mudou nossos planos, passamos a ter que lidar com três ladrões que levaram todos os nossos pertences pessoais e de trabalho, sem sabermos se em algum momento aquela arma poderia disparar. Quando um dos ladrões me rendeu, eu estava no telefone, com os fones de ouvido, falando com uma professora da escola onde eu trabalho. E por ironia conversávamos sobre nossos antigos trabalhos com pessoas em situação de cárcere. No susto, eu esqueci de desligar o telefone. Assim, ao perceber que eu não respondia, ao invés de desligar, ela ficou atenta. Quando ouviu que estavam pedindo dinheiro e nos ameaçando de morte, constatou que se tratava de um assalto. Sim, foi essa a nossa salvação, ela pediu meu endereço no grupo do whats da nossa escola, e havia uma única colega que sabia onde eu morava, pois há apenas oito dias tinha estado em minha casa. Rapidamente, as duas ligaram para polícia. E esta chegou no momento em que eu já tinha perdido as forças e a esperança, porque um dos assaltantes decidiu avisar aos outros dois que iria esperá-los carregarem o carro e voltarem depois para buscá-los. Na minha cabeça passava um filme, e eu só pensava que podíamos ter errado alguma das senhas dos cartões que eles haviam roubado e que no retorno iriam nos matar. Tive uma crise, meu peito parecia querer se rasgar, e eu suava de uma maneira inexplicável, sentada no chão com os joelhos dobrados, num espaço onde eu mal cabia, com as mãos e os pés amarrados... Naquele momento, eu não consegui mais ser forte. Ao ouvir que o cárcere iria durar no mínimo mais uma hora, senti que me perdia...
Eu tinha sido forte ao ajudar os ladrões a retirar os cadarços dos tênis para nos amarrar, ao buscar a chave do carro para eles, ao dar minhas senhas, ao repetir o que foi pedido “se meu carro tiver corta corrente você pode voltar e estourar meus miolos”. E de fato eu fui forte, até o momento em que conseguia ver o fim de tudo aquilo... mas quando passei a não avistar mais o fim, quando senti que não podia mais interferir no desfecho, meu corpo e meu cérebro se entregaram. Num ápice de lucidez, pedi ao assaltante para me deitar. Na metade desse longo processo de me jogar ao chão, eis que o Bope chega, e sim, o alívio chegou, o fim parecia ao meu alcance. Contudo o início do fim ainda ia ser longo, longo demais... Começava uma sina de depoimentos em duas delegacias diferentes, uma jornada que iniciou às 18h, logo após o fim do cárcere, até às 10h da manhã do outro dia... uma jornada ininterrupta de espera, de dor e de desrespeito que duas vítimas tiveram que viver. Uma das vítimas depoentes era eu. Como no Brasil mulheres negras são a todo momento desqualificadas em suas falas, ainda precisei, naquele momento, me ressignificar para lutar contra o machismo e o racismo. Na hora do meu depoimento, um escrivão achou que eu deveria contar apenas uma parte da história. Chegou a vir para cima de mim, gritando umas três vezes, e quem o segurou foi uma colega dele. Sim, eu havia dito inicialmente que isso não era um conto, e sim uma história verídica de quatro pessoas negras que, depois de mais de trinta dias do assalto não conseguiram mais ficar na casa. Era hora de nos mudarmos e isso acarretou inúmeros problemas... Em menos de um mês, já habitei quatro casas diferentes, tudo em função do assalto e das desigualdades que assolam o povo negro. Sou professora há mais de dez anos; não tenho casa própria, nem tenho previsão para que isso aconteça. Pago o meu aluguel e, em momentos de recursos escassos, como o do coronavírus, procuro a casa de pessoas que me acolhem: meus familiares ou amigos.
Aqui fica, portanto, o agradecimento a essas pessoas negras, que entendem o significado de quilombo e de levante do povo negro. Os planos de focar na vida acadêmica, na quarentena, vão ficando de lado, porque o racismo institucional não nos dá trégua. Mesmo após mais esse sofrimento, sigo lutando e sempre lembrando a todos que não precisamos ser fortes sempre. Uma esperança é que, em meio ao caos, apareçam espaços em que possamos escrever em primeira pessoa, para que (re)contemos nossa história, que sempre nos foi negada. Penso que “... aqui eu não sou a ‘Outra’, mas sim eu própria. Não sou o objeto, mas o sujeito”[2] Que nunca mais o povo negro viva nenhum tipo de cárcere, nenhum!
Espinhos angustiantes
Definir o meu espinho? Uma tarefa bem desafiadora nesse momento em que alguns sentimentos se confundem e outros parecem se esgotar. Porém, há uma palavra que tem estado por aqui há um tempo e que, talvez, dê conta da resposta: angústia. Sinto-me assustada, por não saber como serão os próximos dias; sinto medo, ao ligar a televisão para atualizar-me da situação em que estamos; sinto-me sufocada, por estar trabalhando, praticamente, as vinte e quatro horas do dia; e sinto-me tensa e preocupada, por ter a sensação de improdutividade acadêmica. São esses os espinhos angustiantes que me causam desconforto.
O não poder sair de casa é inquietante. Existem privilégios que antes não eram tão presentes ou percebidos por mim, como morar em uma casa que tivesse quintal ou em um apartamento espaçoso, para que houvesse mais privacidade e a sensação de sufocamento fosse menor. Moro com meus dois irmãos e minha sobrinha de dois anos em um lugar que, agora, parece ser tão pequeno que noto sempre nem a luz do sol consegue entrar. A convivência com muitas pessoas é inevitável, durante todos esses dias, e dificulta bastante as atividades acadêmicas. Nesse momento, diante da realidade e das obrigações, é angustiante perceber que estou, cada vez mais, distante de ter um teto todo meu[3].
O planejamento do calendário do mestrado estava perfeito. Primeiro ano foi dedicado ao cumprimento das disciplinas. Sabia que seria complicado cursar seis cursos, mas o esforço parecia valer a pena, pois, no segundo ano, este em que nos encontramos, imaginei estar livre, com menos obrigações, para escrever a dissertação. E aqui estamos nós... No quarto mês do ano, mais da metade do mestrado, e minha escrita estagnada. É isso mesmo o que sinto: Angústia.
Ironicamente, minha pesquisa do mestrado é sobre uma ideia de angústia capaz de nos impulsionar, de nos movimentar, e a angústia que sinto agora, diante dessa pandemia, me paralisa. Ironicamente, nesse semestre separado e pensado, com muito cuidado, para que a minhas ideias saíssem da cabeça e fossem para o papel, encontro-me estagnada, vivenciando o oposto do que imaginei. Porém, persisto na tentativa de (re)encontrar o ir e vir inquietantes.
Por isso, desde que o isolamento social começou, as reuniões do grupo de pesquisa Escritas do Corpo Feminino apresentaram-se como a única maneira de “circular” no meio desse caos. Mesmo que o contato seja virtual, os encontros, que antes eram quinzenais, tornaram-se semanais. São momentos nos quais as palavras escritas, faladas, literárias e teóricas se entrecruzam e dialogam, estimulando, assim, a minha escrita.
Ironicamente, após dizer que os espinhos angustiantes me ferem e me paralisam, vejo uma escrita se movimentar e criar uma forma agora. Acabo de reencontrar a angústia que me impulsiona e que me faz chegar até aqui, até vocês. Faço dessa escrita o movimento para a minha pesquisa. Como disse Anzaldúa, “escrever é um ato de criar alma (...) nos protege (...) nos ajuda a sobreviver.”[4]
Buscando o equilíbrio ou As mentiras que contamos para nós mesmas(os) ou ainda Existe em nós um verão invencível
Sobreviver é uma das palavras de ordem nesse momento no mundo. Tudo parece tornar-se relativo diante dos assustadores vírus que nos ameaçam. Refiro-me, em primeiro lugar, ao coronavírus, palavra que já traz embutida no nome o domínio avassalador que circula o mundo todo, e, em segundo lugar, também de efeito bastante nefasto, ao vírus em forma de ser humano que desgoverna o Brasil desde o início de 2019. Ambos nos atacam e nos fragilizam com mentiras e constantes manobras insólitas. Notamos aqui mais duas ironias que unem esses dois vírus: o próprio corona usa a mentira como recurso, pois é capaz de enganar o nosso sistema imunológico para entrar no nosso corpo, buscando a sobrevivência, e o bozovírus, que governa os brasileiros, naturalizou a mentira de tal forma, que seus seguidores são capazes de admitir, tranquilamente, que ele mente, sem que isso signifique uma retirada de apoio ao seu governo.
Meu incômodo ou espinho, face a esse quadro viral, no mundo e na política brasileira, inicialmente, tem a ver com a própria ideia que me parece estar na base da parábola do porco-espinho. Como encontrar o equilíbrio diante do caos? O mundo mudou radicalmente, mas nosso olhar é sempre uma projeção de nosso desejo, daquilo que buscamos ao longo da vida. Então, diante do horror do contexto atual, faço, ainda mais intensamente, as mesmas perguntas que sempre me fiz: como encontrar o ponto de equilíbrio entre a distância e a proximidade do outro que nos permite sobreviver? Como encontrar o lugar de equilíbrio entre o desejo que sentimos de expressar o que pensamos e a necessidade de nos conter, para nos preservarmos? É de equilíbrio que se fala na parábola do porco espinho. Por isso, penso não só nas muitas oscilações e negociações, entre um extremo e outro da balança, que estabelecemos com os outros e conosco, mas também no equilíbrio utópico, sonhado, que permitiria sempre que todos fossem ouvidos, atendidos e respeitados, em algum nível, e que ninguém ficasse do lado de fora da casa.
A pandemia e os impasses nos rumos do país instauraram, de forma incontornável, o desequilíbrio geral. E ele só parece a aumentar, quando esperamos que alguma resposta venha de fora, pois não vislumbramos grandes esperanças nesse momento. Sem respostas do mundo exterior, do qual só nos chegam, no que diz respeito ao coronavírus, informações contraditórias, ou, no que se refere à tragédia política brasileira, mentiras que temos engolido desde as últimas eleições em 2018, buscamos outras formas de recuperar o equilíbrio necessário.
Somos, assim, compelidos à observação do nosso mundo interior. Sentimo-nos, então, quase que forçados a reparar nos espinhos interiores que criamos para nós mesmos. Somos levados a perceber, por exemplo, as muitas mentiras que também construímos, em nosso cotidiano, para sustentar ideias difíceis de digerir; amargas e incômodas verdades que fomos travestindo em mentiras adocicadas e levianas. As mentiras que criamos para nós mesmas (os) são as mais difíceis de se dissolverem. A filosofia se debruçou sobre esse tema exaustivamente, mas ninguém nos mostrou de forma mais magistral que Freud por que escolhemos a inconsciência.
Esse é, na verdade, o meu espinho nesse momento. O espinho do autoengano cometido. No entanto, tal como aconteceu com a Fernanda, percebo que posso transformar esse meu espinho em força, olhando de frente as mentiras e os equívocos que acumulei, como quem guarda o que não serve no cômodo não arejado. Posso liberar as portas e abrir as janelas, para que a luz, a lucidez e a aprendizagem possam entrar. Eis o lado bom dessa crise, que nos força a esse confronto interior.
Recordo-me, agora, de uma outra metáfora, de Albert Camus, tantas vezes interpretado, de forma limitada, como filósofo do absurdo. Muito mais do que isso, o escritor argelino foi, antes de tudo, o pensador da luta pela vida e da busca da felicidade em um dos períodos mais difíceis da história do homem. É dele, portanto, o pensamento que convoco para nos socorrer nesse momento aterrador. E parodio, aqui, as suas palavras, no auge da depressão e do desespero que viveu, numa Europa combalida pela guerra, pelo nazismo, pelo desencanto dos sonhos que se esboroavam: no meio do inverno, podemos descobrir que há em nós um verão invencível!
Autores pela ordem dos textos:
Elisabete Nascimento: escritora, doutora em Ciência da Literatura (UFRJ), Mestre em Semiologia (UFRJ), Especialista em História da África (PUC). Membro do Grupo de pesquisa Escritas do corpo feminino.
Taís dos Santos Abel: doutoranda em Literaturas africanas, mestre e especialista na mesma área. Membro do grupo de pesquisas Escritas do corpo feminino.
Chris Jones - Christopher Pereira Jones de Carvalho. Especialista em Literaturas Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Membro do grupo de pesquisa escritas do corpo feminino.
Cíntia Acosta Kütter Pesquisadora PNPD da Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutora em Letras Vernáculas (UFRJ), Membro do grupo de pesquisa Escritas do corpo feminino.
Nathália Rangel de Matos: pesquisadora Capes, Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas. Mestranda em Letras Vernáculas (UFRJ). Membro do grupo de pesquisa Escritas do corpo feminino.
Nathália Guedes de Araújo. Pesquisadora bolsista Cnpq. Especialista em Literaturas Africanas. Mestranda em Letras Vernáculas (UFRJ). Membro do grupo de pesquisa Escritas do corpo feminino.
Lisiane Niedsberg: Professora do município de Viamão, Graduada em Letras - pela FURG, Especialista em educação pela diversidade pela (UFRGS), Membro do Grupo de Pesquisa Escritas do Corpo feminino.
Fernanda Oliveira da Silva, Pesquisadora bolsista FAPERJ, Especialista em Literaturas africanas, Mestranda em Letras Vernáculas (UFRJ), Membro do grupo de pesquisa Escritas do corpo feminino.
M. Teresa Salgado Guimarães da Silva: Profa. de Literaturas Africanas na Fac. Letras da UFRJ. Atualmente, volta-se para a pesquisa em torno de questões de gênero, feminismo, autoria feminina. Coord. do Grupo de pesquisa Escritas do corpo feminino, vinculado à Faculdade de Letras da UFRJ.
[1] Camus, Albert. O mito de Sísifo, Rio de Janeiro: Edições Bestbolso, p. 123.
[2] Kilomba, Grada. Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
[3] Referência à obra Um teto todo seu, de Virginia Woolf, onde se defende a ideia de que a mulher (escritora) precisa de um espaço adequado para desenvolver sua escrita sem interferência, assim como é fundamental a sua independência econômica.
[4] Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo, de Gloria Anzaldúa.