Cacique Doble: uma liderança indígena em destaque na província de São Pedro do Rio Grande, século XIX
Palavras-chave:
Povos indígenas, Memória, HistóriaResumo
A questão sobre como se consolidaram as lideranças indígenas no contexto imperial ainda permanece um campo insuficientemente explorado, pois “tornar-se” liderança não se tratava de um movimento autônomo ou, quando muito, regulado por fatores exclusivamente internos a um grupo social. A ocupação de um lugar de liderança não pode ser compreendida a partir de critérios naturalizantes, mas, pelo contrário, deve-se tratar o assunto com a perspectiva de que estão envolvidos termos de carisma, características simbólicas, conquista, perspicácia e reconhecimento por parte do grupo. Deve-se ter em vista uma intensa troca de aspectos históricos e simbólicos, entre ordem e mudança.
Neste sentido, o desempenho da liderança Kaingang, cacique Doble, perante o seu grupo, as autoridades e outros membros da sociedade sul-riograndense no século XIX é exemplar de como nessas relações estiveram em jogo estruturas de expectativa, onde a negociação e a improvisação, especialmente do lado indígena, tornaram-se práticas da ordem cotidiana. Sua vida e morte compartilham também os percalços sofridos pelos Kaingang naquele momento.
Assim, quando os Coroados, como eram chamados os Kaingang na Província do Rio Grande de São Pedro no século XIX, buscavam os aldeamentos, encontravam naquela instituição a proteção necessária contra a violência que vigorava nas matas; um álibi perfeito para desvincularem-se das correrias que praticavam, criando “para si um espaço de jogo para maneiras de utilizar a ordem imposta do lugar.
É por isso que, embora a História tenha deixado a “história dos grandes homens” de lado, o caso de Doble resguarda importância em retomar alguns aspectos dela, especialmente quando percebemos que os seus feitos foram fundamentais para se compreender a sociedade da qual fez parte. Sendo por esse o nosso objetivo de recuperar suas experiências, através de vias de análise que utilizam “formas antigas de escrever a história”, mas que incorpora autocrítica e outras perspectivas.
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