AS POLÍTICAS DE LÍNGUAS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO E AS “LUTAS IDEOLÓGICAS DE MOVIMENTO”

Autores

  • Mariza Vieira da Silva

DOI:

https://doi.org/10.61358/policromias.v6i3.49455

Resumo

Neste artigo, visamos, da perspectiva discursiva, compreender um pouco mais as “lutas ideológicas de movimento” (Pêcheux, 2011) que se travam nas políticas de línguas desenvolvidas no Brasil a partir da segunda metade do século XX, no domínio da história das ideias linguísticas, de forma a enfrentar os desafios que se apresentam em movimentos recentes da política educacional brasileira e, ao mesmo tempo, trabalhar outros gestos de leitura possíveis como forma de resistência. Nesse momento, em uma formação discursiva neoliberal, dá-se uma mudança de paradigma no campo teórico-prático, que buscamos explicitar e analisar, explorando os pressupostos de determinadas conjunturas. Pudemos observar que o Estado se reestrutura segundo o modelo gerencial não só em termos de formas burocrático administrativas de gestão técnica – sua face mais visível -, mas também sob outras formas normativamente estruturadas de controle, de poder – sua face mais invisível - em que se constituem novos processos de individuação do sujeito capitalista e de significação-identificação desse sujeito, dificultando a construção de laços de solidariedade, de pertencimento em um espaço público heterogêneo como a Escola.

Biografia do Autor

Mariza Vieira da Silva

É graduada em Letras (Licenciatura) pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Uberlândia (1967); tem mestrado em Linguística pela Universidade de Brasília (1977), doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (1998), com pós-doutorado na École Normale Supérieure Lettres et Sciences Humaines de Lyon/França (2000-2001/2008-2009). Temas de trabalho: história da alfabetização no Brasil, escolarização da língua nacional, linguagem e subjetividade.Pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos Urbanos do Núcleo de Criatividade da Universidade Estadual de Campinas. Professora aposentada. 

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Publicado

2022-01-17

Edição

Seção

Dossiês