SAÚDE MENTAL E A ESCRITA DO FEMININO EM CLARICE LISPECTOR
Palabras clave:
Feminino, Saúde mental, Clarice Lispector.Resumen
O objetivo deste estudo teórico é refletir sobre os marcadores de gênero e de saúde mental emergentes nas personagens Joana e Macabéa dos romances Perto do coração selvagem e A hora da estrela, de Clarice Lispector. As reflexões sobre as experiências de ser e se tornar mulher são narradas a partir do corpo dessas personagens. Sentidos sobre esse corpo circulam em ambos os livros, ora descrevendo a liberdade, o instintivo, a dimensão do prazer, ora representando os limites impostos pela sociedade e por instituições como o casamento e a própria família. O adoecimento psíquico, em ambas, é retratado em termos de um mal-estar que também repousa sobre o corpo, o corpo eminentemente feminino. O domínio sobre a palavra – e o conhecimento acerca de si – emerge como uma possibilidade de dominar o próprio mundo, aspecto este buscado por Joana e temido por Macabéa. Ambas as protagonistas trazem o desconforto desse corpo – ou a insuficiência do mesmo para narrar tudo aquilo que desejam, o que pode ser problematizado não apenas como um movimento de escrita do feminino em Clarice, mas também como uma forma de leitura sobre o cuidado em saúde mental ofertado à mulher.
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