Sofrimento psíquico de pessoas em situação de rua: cotidiano de quem sofre e estratégias para o cuidado
Psychological suffering of homeless people: daily life of those who suffer and strategies for care
DOI:
https://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto58577Palavras-chave:
Terapia Ocupacional. Saúde Mental. População em Situação de Rua. Território.Resumo
Introdução: Apesar de haver uma política de saúde pública implementada e em consolidação no Brasil, o acesso aos direitos e serviços de cuidado ainda é um desafio, sobretudo em saúde mental, para a população em situação de rua. Objetivo: O presente estudo buscou melhor compreender o cotidiano da população em situação de rua com sofrimento psíquico grave e as estratégias de cuidado em saúde mental para ela voltados. Métodos: Parte-se de uma aproximação gradativa e mediada pela equipe do Consultório na Rua de Santos, entrevistando trabalhadores e usuários do serviço, além da observação participante em ações desenvolvidas no período de dois meses. Resultados: Os achados afirmam a força das tecnologias leves em saúde como estratégia prioritária de cuidado, além de destacarem a centralidade do território na leitura da realidade e na proposição de ações de cuidado, especialmente, para as situações em que o mesmo se configura como casa. Destaca-se a escuta e a fala enquanto atividades humanas, norteando o processo de atenção em terapia ocupacional. Conclusão: Salienta-se a composição das equipes de Consultório na Rua com terapeutas ocupacionais, visto suas contribuições no que se refere à leitura e à intervenção junto ao cotidiano das pessoas atendidas. Com isso, pode-se construir uma transformação das cenas, envolvendo pessoas e territórios, trabalhando na defesa dos direitos de cidadania e na determinação social das subjetividades, além da necessidade de modificação das noções de território, morar e habitar, sobretudo, no que diz respeito à população em situação de rua.
Palavras-chave: Saúde Mental. População em Situação de Rua. Território. Terapia Ocupacional.
ABSTRACT
Introduction: Introduction: Although there is an integrated public health policy in consolidation in Brazil, access to rights and care services is still a challenge, especially in mental health, for the homeless population. Objective: The present study sought to better understand the daily life of the homeless population with severe psychological distress and the mental health care strategies aimed at them. Methods: We started with a gradual approach, mediated by the Consultório na Rua de Santos team, interviewing workers and users of the service, in addition to participant observation in actions developed over a period of two months. Results: Our findings affirm the strength of health technologies as a priority care strategy, in addition to highlighting the centrality of the territory in reading reality and proposing care actions, especially for situations in which it is configured as a home. We highlight listening and speech as human activities, guiding the care process in occupational therapy. Conclusion: We emphasize the composition of the Consultório na Rua teams with occupational therapists, given their contributions with regard to reading and intervention in the daily lives of the people assisted, being able to construct a transformation of the scenes, involving people and territories, working in defense of the citizenship rights and in the social experience of subjectivities, in addition to the need to modify the notions of territory, living and dwelling, especially regarding the homeless population.
Keywords: Mental Health. Homeless Population. Territory. Occupational Therapist.
RESUMEN
Introducción: A pesar de que existe una política pública integrada de salud en consolidación en Brasil, el acceso a los derechos y servicios de atención sigue siendo un desafío, especialmente en salud mental, para la población sin hogar. Objetivo: El presente estudio buscó comprender mejor el cotidiano de la población sin hogar con sufrimiento psíquico severo y las estrategias de atención en salud mental dirigidas a ellos. Métodos: Partimos de un abordaje gradual, mediado por el equipo de Consultório na Rua de Santos, entrevistando a trabajadores y usuarios del servicio, además de observación participante en acciones desarrolladas en un período de dos meses. Resultados: Nuestros hallazgos afirman la fortaleza de las tecnologías de la salud como estrategia de atención prioritaria, además de resaltar la centralidad del territorio en la lectura de la realidad y la propuesta de acciones de cuidado, especialmente para situaciones en las que se configura como hogar. Destacamos la escucha y el habla como actividades humanas, orientando el proceso de atención en terapia ocupacional. Conclusión: Destacamos la composición de los equipos de lo Consultório na Rua con terapeutas ocupacionales, dados sus aportes en cuanto a la lectura y la intervención en el cotidiano de las personas atendidas, pudiendo construir una transformación de los escenarios, involucrando personas y territorios, trabajando en defensa de los derechos ciudadanos y en la vivencia social de las subjetividades, además de la necesidad de modificar las nociones de territorio, habitar y habitar, especialmente en lo que se refiere a la población sin hogar.
Palabras clave: Salud Mental. Territorio Terapeutas Ocupacionales.
Referências
Barbosa, I. C. O. (2015) O FAMOSO INVISÍVEL: Percepção da população em situação de rua do atendimento em urgência e emergência no Sistema Único de Saúde. [Tese de mestrado em Ciências da Saúde, Universidade Federal de São Paulo]. https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/59052
Beverley, J. (2008). Testimonio, subalternity and narrative authority. In: Denzin, N.K.; Lincoln, Y.S. (Eds). Strategies of qualitative Inquiry. (pp. 257-270). Sage;
Borysow, I. C., Furtado J. P. (2013). Acesso e intersetorialidade: o acompanhamento de pessoas em situação de rua com transtorno mental grave. Revista de Saúde Coletiva, 23 (1), 33-50. https://doi.org/10.1590/S0103-73312013000100003
Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos. (2001). Lei n° 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União (DOU), Brasília;
Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos. (2009). Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências. Diário Oficial da União (DOU), Brasília;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (2009). Rua: Aprendendo a Contar: Pesquisa Nacional Sobre a População em Situação de Rua. Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação, Secretaria Nacional de Assistência Social, Brasília;
Castro, E. D., Lima., E. M. F. A.; Brunello, M. I. B.. (2001). Atividades humanas e terapia ocupacional. In: Carlo, M. M. R. P. Bartalotti, C. C. Terapia Ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas ( pp. 41-61). Plexus;
Galheigo, S. M. (2020). Terapia ocupacional, cotidiano e a tessitura da vida: aportes teórico-conceituais para a construção de perspectivas críticas e emancipatórias. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. 28(1), 5-25; https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO2590
Galheigo, S. M. (2003). O cotidiano na terapia ocupacional: cultura, subjetividade e contexto histórico-social. Revista De Terapia Ocupacional Da Universidade De São Paulo, 14(3), 104-109; https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i3p104-109
Gil, A. (2011). Métodos e técnicas de pesquisa social. Atlas;
Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA). (2020). Nota Técnica: Estimativa da população em situação de rua no Brasil (setembro de 2012 a março de 2020). Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (DISOC), Brasília;
Kujawski, G. M. (1991). A crise do cotidiano. In: Kujawski, G. M. A crise do século XX (pg. 30-61). Ática;
Lancetti, A. (2008). Clínica peripatética. Hucitec;
Leão, A.; Salles, M. M. (2016). Cotidiano, reabilitação psicossocial e território: reflexões no campo da terapia ocupacional. In Matsukura, T. S.; Salles, M. M. Cotidiano, atividade humana e ocupação: Perspectivas da terapia ocupacional no campo de saúde mental (pp. p. 61-76.), EdUFSCar;
Malfitano, A. P. S; Marques, A. C. R. (2011). A entrevista como método de pesquisa com pessoas em situação de rua: questões de campo. Cadernos de Terapia Ocupacional UFSCar. 19 (3), 285-296; http://dx.doi.org/10.4322/cto.2011.002
Matsukura, T. S., Salles, M. M. (2016). Cotidiano, Atividade Humana e Ocupação: Perspectivas da terapia ocupacional no campo da saúde mental. EdUFSCar;
Merhy, E. E. (2002). Saúde: a cartografia do trabalho vivo. Hucitec;
Merhy, E.E.; Chakkour, M.; Stéfano, E.; Stéfano, M.E.; Santos, C.M.;
Rodríguez, R.A. (1997). Em busca de ferramentas analisadoras das tecnologias em saúde: a informação e o dia a dia de um serviço, interrogando e gerindo trabalho em saúde. In: Merhy, E.E.; Onocko, R. (Orgs.). Agir em saúde: um desafio para o público (pp. 113-150). Hucitec;
Onocko-Campos, R. T. (2011). Fale com eles! o trabalho interpretativo e a produção de consenso na pesquisa qualitativa em saúde: inovações a partir de desenhos participativos. Revista de Saúde Coletiva, 21 (4), 1269-1286;
https://doi.org/10.1590/S0103-73312011000400006
Paiva, M. H. P; Frizzo, H. C. F. (2012). Concepções de terapeutas ocupacionais acerca da linha de cuidado em saúde mental. Cadernos de Terapia Ocupacional UFSCar. São Carlos, 20 (3), 393-401; http://dx.doi.org/10.4322/cto.2012.039
Safra, G. (1998). A loucura como ausência de cotidiano. Psychê: Revista de Psicanálise, 2( 2), 99-108;
Santos, Mílton. (1996). A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. Hucitec;
Saraceno, B. (1999). Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Te Cora;
Surjus, L. T. L. S., Passador, L. H. (Orgs.) (2021). Por uma Redução de Danos Decolonial. Universidade Federal de São Paulo.
Surjus, L. T. L. S., Ricci, E. C. (2020). Terapia ocupacional em saúde mental: um caso clínico político. In: Gradim, L. C. C.; Finardi, T. N.; Carrijo, D. C. M.; (Org.). Práticas em Terapia Ocupacional(pp. 129- 137). Manole;
Universidade Federal de São Paulo e Secretaria de Desenvolvimento Social do Município de Santos (2020). Relatório parcial do censo da população em situação de rua: contagem na rua, condições de vida e desigualdades sociais em questão. Recuperado em https://www.unifesp.br/reitoria/dci/images/DCI/Relatorio_Censo_Santos_2020.pdf
Wachholz, S. M. S.; Mariotti, M. C. (2010). A participação do terapeuta ocupacional na reforma psiquiátrica e nos novos serviços de saúde mental. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 17(2), 147-159. Recuperado em https://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/104
Arquivos adicionais
Publicado
Edição
Seção
Licença
Declaração e Transferência de Direitos Autorais
O periódico REVISBRATO -- Revista interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional é publicado conforme o modelo de Acesso Aberto e optante dos termos da licença Creative Commons BY (esta licença permite a distribuição, remixe, adaptação e criação a partir da obra, mesmo para fins comerciais, desde que os devidos créditos sejam dados aos autores e autoras da obra, assim como da revista. Mais detalhes disponíveis no site http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/).
No momento da submissão do manuscrito os autores deverão encaminhar, nos documentos suplementares a Declaração de responsabilidade, conflito de interesse e transferência de direitos autorais, segundo modelo disponivel na página "Instruções aos autores"
- Uso de imagens e discursos
Quando um autor submeter imagens para capa, que não correspondam a pesquisas em formato de artigo e que não tenham obrigatoriedade de autorização de Comitê de Ética, assim imagens presentes em outras seções, deverá ser anexado o TERMO DE CESSÃO DE DIREITO DE USO DA IMAGEM E DE DISCURSO (disponível modelo na página "Instruções aos autores"). Somente é necessário que o autor principal assine o termo e o descreva conforme o modelo abaixo em word.