Meninos de saia no Colégio Pedro II: trajetórias textuais de um documento institucional
Palavras-chave:
gênero, uniformes, trajetórias de textos, escalaResumo
Este artigo apresenta uma análise da circulação discursiva da Portaria Nº 2449, de 22 de julho de 2016, que instituiu o fim divisão por gênero nos tradicionais uniformes do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Ele se orienta por uma visão performativa de linguagem, gênero e sexualidade, que compreende as identidades sociais não como pré-existentes e sim como efeitos de sentido de performances encenadas no interior de matrizes de inteligibilidade e estruturas regulatórias. Por essa ótica, a escola é um espaço disciplinar que tradicionalmente fomenta e regula performances hegemônicas de gênero e sexualidade. Entende-se também que a circulação é uma característica intrínseca aos textos, acentuada na contemporaneidade, que envolve processos contínuos de entextualização e ressignificação. Para criar inteligibilidade sobre a circulação de textos e discursos, é útil o construto teórico-analítico de escala, compreendido não como um conjunto de categorias pré-definidas, e sim como projeções operadas e negociadas pelos sujeitos em suas práticas de interação com os textos. A análise se detém sobre quatro momentos da circulação textual: (1) a divulgação oficial do documento pela instituição, (2) reações de usuários de uma rede social, (3) cobertura midiática e (4) um evento acadêmico. Os dados indicam uma fricção entre projetos escalares que inserem a decisão do Colégio no contexto mais amplo de uma educação comprometida com a cidadania, com os direitos humanos e com lutas antidiscriminatórias, por um lado, e projeções que isolam a escola da vida social e atuam na manutenção das matrizes hegemônicas de inteligibilidade de gênero.
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