Meninos de saia no Colégio Pedro II: trajetórias textuais de um documento institucional
Keywords:
gênero, uniformes, trajetórias de textos, escalaAbstract
Este artigo apresenta uma análise da circulação discursiva da Portaria Nº 2449, de 22 de julho de 2016, que instituiu o fim divisão por gênero nos tradicionais uniformes do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Ele se orienta por uma visão performativa de linguagem, gênero e sexualidade, que compreende as identidades sociais não como pré-existentes e sim como efeitos de sentido de performances encenadas no interior de matrizes de inteligibilidade e estruturas regulatórias. Por essa ótica, a escola é um espaço disciplinar que tradicionalmente fomenta e regula performances hegemônicas de gênero e sexualidade. Entende-se também que a circulação é uma característica intrínseca aos textos, acentuada na contemporaneidade, que envolve processos contínuos de entextualização e ressignificação. Para criar inteligibilidade sobre a circulação de textos e discursos, é útil o construto teórico-analítico de escala, compreendido não como um conjunto de categorias pré-definidas, e sim como projeções operadas e negociadas pelos sujeitos em suas práticas de interação com os textos. A análise se detém sobre quatro momentos da circulação textual: (1) a divulgação oficial do documento pela instituição, (2) reações de usuários de uma rede social, (3) cobertura midiática e (4) um evento acadêmico. Os dados indicam uma fricção entre projetos escalares que inserem a decisão do Colégio no contexto mais amplo de uma educação comprometida com a cidadania, com os direitos humanos e com lutas antidiscriminatórias, por um lado, e projeções que isolam a escola da vida social e atuam na manutenção das matrizes hegemônicas de inteligibilidade de gênero.
References
AGHA, Asif. 2007. Language and social relations. Cambridge: Cambridge University Press.
APPADURAI, Ajurn. 2001. Grassroots globalization and the research imagination. In: _________ (Org.). Globalization. Durham: Duke University Press.
BLOMMAERT, Jan. 2005. Discourse: a critical introduction. Cambridge: Cambridge University Press.
___________. 2010. The sociolinguistics of globalization. Cambridge: ambridge University Press.
___________. 2015a. Meaning as a non-linear effect: the birth of cool. AILA Review, 28: 7-27.
___________. 2015b. Chronotopes, scales and complexity in the study of language and society. Annual Review of Anthropology, 44: 105-116.
BORBA, Rodrigo. 2014 A linguagem importa? Sobre performance, performatividade e peregrinações conceituais. Cadernos Pagu 43: 441-474.
BRIGGS, Charles L. 2005. Communicability, racial discourse and disease. Annual Review of Anthropology, 34: 269-91.
_______. 2007. Anthropology, interviewing, and communicability in contemporary society. Current Anthropology, 48 (4): 551-580.
BUTLER, Judith. 1988. Performative acts and gender constitution: an essay on phenomenology and feminist theory. Theatre Journal, 40 (4): 519-531.
CARR, E. Summerson S. & LEMPERT, Michael. 2016. Introduction: pragmatics of scale. In: ____ (Orgs.). Scale: discourse and dimensions of social life. Oakland: University of California Press. 1-21.
FABRÍCIO, Branca Falabella. 2015. Policing the borderland in a digital Lusophone territory: the pragmatics of entextualization. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo (Org.). Global Portuguese: linguistic ideologies in late modernity, Londres: Routledge. 66-86.
FOUCAULT, Michel. [1975] 2007. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes.
GAL, Susan. 2016. Scale-making: comparison and perspective as ideological projects. In: CARR, E. Summerson S. & LEMPERT, Michael. Scale: discourse and dimensions of social life. Oakland: University of California Press. 91-111.
JUNQUEIRA, Rogério Diniz. 2017. “Ideologia de gênero”: a gênese de uma categoria política reacionária – ou: a promoção dos direitos humanos se tornou uma “ameaça à família natural”? In: RIBEIRO, Paula Regina Costa Ribeiro & MAGALHÃES, Joanalira Corpes. Debates contemporâneos sobre Educação para a sexualidade. Rio Grande: FURG. 25-52.
KELL, Catherine. 2013. Ariadne’s thread: literacy, scale and meaning making across space and time. Working Papers in Urban Language & Literacies: paper 118.
MOITA LOPES, Luiz Paulo. 2006. Lingüística Aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: ____________ (Org.). Por uma Lingüística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola. 85-107.
SILVERSTEIN, Michael. & URBAN, Greg. 1996. The natural history of discourse. In: ___________ (Orgs.). Natural histories of discourse. Chicago: The University of Chicago Press, 1996. 1-17.
SILVERSTEIN, Michael. 2003. Indexical order and the dialectics of sociolinguistic life. Language & Communication, 23: 193–229.
URBAN, Greg. 1996. Entextualization, replication, and power. In SILVERSTEIN, Michael & URBAN, Greg. (Orgs.). Natural histories of discourse. Chicago: The University of Chicago Press. 21-44.
VENN, Couze. 2000. Occidentalism: modernity and subjectivity. Londres: Sage.
WALLERSTEIN, Immanuel. 1997. The time of space and the space of time: the future of social science. Disponível em: http:www.binghamton.edu/fbc/archive/iwtynesi.htm. Acesso em: 17 set. 2016.
WARNER, Michael. 2005. Publics and counterpublics. Nova York: Zone Books.
Downloads
Published
Issue
Section
License
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).