Enquanto o sono não vem, ressoaremos: uma análise dialógica discursiva de obra paradidática censurada na contemporaneidade política brasileira
Mots-clés :
paradidático, Bakhtin, discurso, censura, literaturaRésumé
Este artigo objetiva problematizar e refratar os sentidos e as conexões ideológicas envoltas na censura literária contemporânea ao paradidático Enquanto o sono não vem, de José Mauro Brant e ilustrações de Ana Maria Moura. Tal livro, aprovado pelo Programa Nacional do Livro Didático/ Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNLD/ Pnaic) de 2014, obteve ordem de recolhimento pelo Ministério da Educação (MEC) em 2017. Sendo a censura interdita à democratização dos saberes, em geral, e da formação de leitores, em particular, move-nos a curiosidade investigativa de olhar para a obra e seu contexto de proibição. Em tal percurso, à luz da análise do discurso de abordagem dialógica, buscam-se as concepções tecidas no Círculo de Bakhtin, para compreender a obra inscrita nessa polêmica e problematizar, ainda, como a conjuntura sociopolítica pós-golpe de 2016 lida com temas e contextos tidos como ‘inadequados’ pela ordem literária estabelecida. Tais conceitos bakhtinianos são pensados perante a atitude de observação do paradidático, a partir de uma análise da arquitetônica e de aspectos composicionais da obra que refratam as acusações de censura sobre o tema da obra. Constata-se que a proibição do paradidático em análise integra um elo da cadeia discursiva autoritária da conjuntura sociopolítica brasileira, cujos ecos e réplicas podem limitar os horizontes de possibilidades do estudante, sendo a censura postura contradita à democratização dos saberes, sobretudo os literários.Références
ADORNO, T., & HORKHEIMER, M. 2011. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar.
AMORIM, M. 2012. Cronotopo e Exotopia. In: BRAIT, Beth (Org). Bakhtin: outros conceitos-chave. 2ª ed. São Paulo: Contexto.
ANDRUETTO, M. T. 2017. A leitura, outra revolução. Trad. Newton Cunha. São Paulo: Edições Sesc.
ANDRUETTO, M. T. 2012. Por uma literatura sem adjetivos. Trad. Carmem Cacciacarro. São Paulo: Editora Pulo do Gato.
BAKHTIN, M. [1975]1998. Questões de literatura e de estética. A teoria do romance. Trad. Aurora Fornoniet al. 4ª ed. São Paulo: UNESP.
BRASIL. 1997. Ministério da Educação e da Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. MEC/SEF.
BRASIL. 2017. Parecer técnico da Secretaria da Educação Básica. In: Ofício Circular n.º 294/2017 – GESTOREMREDE/SEDUC. Disponível em: http://www.portaldaeducacao.recife.pe.gov.br/sites/default/files/circular294_0.pdf. Acesso em 30 jul. 2022.
BRAIT, B. (Org.). 2012. Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto.
BRANT, J. M. 2003. Enquanto o sono não vem. Ilustrações de Ana Maria Moura. Rio de Janeiro: Rocco.
BUBNOVA, T. 2013. O princípio ético como fundamento do dialogismo em Mikhail Bakhtin. In: Conexão Letras, Porto Alegre: UFRGS, Vol. 8, n. 10.
CANDIDO, A. 2004. Vários escritos. São Paulo: Ouro sobre azul.
CANDIDO, A. 1989. Direitos humanos e literatura. In: A.C.R. Fester (Org.) Cjp / Ed. Brasiliense.
CHARTIER, R. 1999. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Tradução: Reginaldo Carmello Côrrea de Moraes. São Paulo: Editora UNESP.
COLOMER, T. 2013. A formação do leitor literário. Trad. Laura Sandroni. São Paulo, Global.
ECO, U. 2015. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva.
FARACO, C.A. 2020. Autor e autoria. In. BRAIT, B. (Org.) Bakhtin: Conceitos-Chave. São Paulo, Contexto.
MANGUEL, A. 1997. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras.
PERROTTI, E. 1986. O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Ícone.
ROJO, R.; MELO, R. 2017. Letramentos contemporâneos e a arquitetônica bakhtiniana. Revista DELTA. vol. 33 nº 4, São Paulo Oct,/Dec. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502017000401271. Acesso em: 18 ago. 2022.
SIPRIANO, B.F. & GONÇALVES, J.B.C. 2017. O conceito de vozes sociais na teoria bakhtiniana. Revista Diálogos. Relendo Bakhtin, v. 5, n. 1. [http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/revdia].
SOBRAL, A. & GIACOMELLI, K. Observações didáticas sobre a análise dialógica do discurso - ADD. Domínios de Lingu@Gem, v.10, 2016, p.1076-1094.
TENFEN, M. 2017. Livro recolhido pelo MEC não é apologia ao incesto. É seu oposto. Revista Veja. 17 jun. Disponível em: https://veja.abril.com.br/educacao/livro-recolhido-pelo-mec-nao-e-apologia-do-incesto-e-seu-oposto/. Acesso em 15 mar. 2022.
VOLÓCHINOV, V. 2017. Marxismo e Filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Grillo, Sheila; Américo, Ekaterina Vólkova. São Paulo: Editora 34.
Téléchargements
Publiée
Numéro
Rubrique
Licence
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).