A MORTE E A MORTE DAS VÍTIMAS DA COVID-19 NO BRASIL: O DIREITO À MEMÓRIA ENQUANTO RESISTÊNCIA À NECROPOLÍTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA DO CORONAVÍRUS

Autores

  • Carlos Eduardo Gomes Nascimento Universidade Federal da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.21875/tjc.v7i0.49112

Resumo


Resumo: O presente artigo expõe uma análise sobre o direito fundamental à memória em tempos de crise da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). A memória (um legado de experiências, sentimentos e fatos) de milhares de pessoas vitimadas pelo Covid-19 passou a ser um fator de disputa pelo poder. Em meio a esse conflito, o texto problematiza como devemos preservar a memória dos mortos pela Covid-19. Partindo de uma experiência de perda pessoal do autor, apresentamos alguns conceitos (biopolítica e necropolítica) para refletir a relação entre a morte, o direito e o estado. O corpo perece com a morte, mas também a memória pode morrer, quando a história dos que se foram é sufocada, ao não ser transmitida às futuras gerações. Por fim, reivindica à memória como direito fundamental que pode vir a ser um modo de combate ao esquecimento deliberado em tempos de crise.

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Publicado

2022-07-13

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Seção Especial: Dossiê "Direitos Humanos, democracia e desenhos institucionais em tempos de crise"