"Um afogado sonhando com salvação": a doutrina das portas em Franz Kafka
DOI:
https://doi.org/10.55702/3m.v17i28.10768Resumo
O ensaio trata da figura da “porta” na obra Kafka procurando explorar seus vários sentidos. A “porta” que Kafka buscava e sobre a qual insistentemente escreveu, tem uma topografia sui generis. Ora ela lembra da “porta do paraí-so”, de onde fomos expulsos depois que provamos da Árvore do Saber, ora elas podem significar, por exemplo, o sentimento de exclusão da vida, da cultura, das regras e da justiça, em outros momentos, indicam uma busca de (finalmente) “estar no mundo”, do desejo de um “bem-estar no mundo”.
Essa escrita ronda constantemente as passagens entre o corpo e o espaço (hostil) que o (des)abriga. O “dentro” e o “fora” são constantemente vazados e interpenetrados nessa poética que procura apanhar o inapanhável, ou seja, o “recalcado”, aquilo que foi esquecido, o lixo, a escória. Ao invés de erigir
mais uma barreira entre o abjeto e o mundo da lei e das formas claras, Kafka, como uma criança, mergulha na lama do pré-simbólico. Kafka apresentou nesse espaço de diáspora, nesse local assombrado das passagens, das fronteiras, a interface ao mesmo tempo bloqueada e aberta entre o eu e o mundo. Se a literatura desde o Romantismo tem por função encenar a relação tensa do indivíduo moderno com o espaço público, Kafka mostra que os canais que poderiam garantir uma vida pacífica nesse mundo moderno estão assombrados.
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Publicado
2013-06-17
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Seção
Artigos
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