Escrever o luto, hospedar a íntima ruína

Autores

DOI:

https://doi.org/10.55702/3m.v29i59.67056

Palavras-chave:

Escrita, luto, íntimo, psicanálise

Resumo

A radicalidade da morte, o “nunca mais” que a acompanha, inaugura no enlutado um estrangeirismo próprio daqueles que sofrem uma ruptura. A escrita, se aproximada da noção de hospitalidade absoluta proposta por Jacques Derrida (1996), é pensada enquanto capaz de ofertar a este estrangeiro/enlutado um abrigo, sem, no entanto, cobrar-lhe uma suposta inteligibilidade, um nome. Assim, através de escritas do luto que compõe o campo literário, investiga-se como a escrita cede lugar para que o enlutado possa rasurar, ressuscitar e recriar palavras, diante de um estranhamento vivenciado em quatro frentes: no corpo, no externo, no tempo e na linguagem. Em primeira e última instância, eleva-se a escrita à condição de hospedeira da mais íntima ruína: a perda de um objeto de amor.

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Biografia do Autor

Maria Luiza Moraes, Universidade Federal da Bahia

Mestranda em psicologia na linha "Contextos de desenvolvimento, clínica e saúde" do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia (PPGPSI/UFBA). Graduada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2021. Trabalhou como Psicóloga do Programa Trainee no Hospital da Bahia (2023), atuando com paciente/equipe/família em unidades de terapia intensiva. Ainda durante a graduação, foi membro extensionista no projeto "Luto e subjetivações: clínica, política e ética" (2019-2020). Realizou estágio curricular no Serviço de Psicologia Prof. João Ignácio de Mendonça sob orientação psicanalítica. Coordenou o projeto de extensão "Sussurros Psicanálise Filosofia e Literatura" (2020). Integra o grupo de pesquisa Hiato: psicanálise, clínica e política. É membro correspondente do Campo Psicanalítico - Salvador. Atua na área clínica. Possui interesse nos temas: psicanálise, clínica, linguística, literatura e arte.

Suely Aires Pontes, Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, mestrado e doutorado em Filosofia (bolsista CNPq) pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutorado em Estudos Psicanalíticos pela Universidade Federal de Minas Gerais. Foi docente de teoria e clínica psicanalítica na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia no período de 2007 a 2018. Atualmente é professora no Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia e compõe o quadro docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (IPS-UFBA). É professora-tutora na Residência Multiprofissional em Saúde HUPES/UFBA. Atua nos grupos de pesquisa "Filosofia e Psicanálise" e "Hiato: psicanálise, clínica e política" (líder). É membro do Colégio de Psicanálise da Bahia e membro fundador do Centro de Pesquisa Outrarte: psicanálise entre ciência e arte (Unicamp). Faz parte do grupo de sustentação do GT de Filosofia e Psicanálise (ANPOF)

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Publicado

2025-12-01