Retórica e política dionisíacas em Acarnenses de Aristófanes

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47661/afcl.v13i26.23553

Palavras-chave:

Aristófanes, Acarnenses, retórica, comédia, política.

Resumo

Acarnenses é a única comédia de Aristófanes em que uma personagem fala explicitamente em nome do autor. Em geral, é apenas o coro quem desempenha o papel de porta-voz declarado do comediógrafo, nas parábaseis de suas obras. Nessa peça, ao contrário, vemos o protagonista usar a primeira pessoa para referir-se a um evento exterior à trama cômica, e supostamente ocorrido com o autor do texto (o conhecido processo que Cléon teria movido contra Aristófanes). Essa estratégia, por si só, permite à obra apresentar um complexo entrelaçamento de temas: a autodefesa do protagonista Diceópolis, por ter firmado trégua privada com Esparta (que remete, em jogo paratrágico, à autodefesa de Télefo na tragédia euripideana de mesmo nome); a autodefesa que o próprio autor Aristófanes realiza, a fim de refutar as acusações formuladas por Cléon contra ele; a autodefesa da comédia, por comparação com a tragédia. Como se pode notar, trata-se de uma superposição de camadas apologéticas, cuja maior característica são os procedimentos meta-teatrais e meta-retóricos. Neste artigo, pretendo analisar algumas das várias relações entre comédia, retórica e política que o texto de Aristófanes sugere. E pretendo, por fim, extrair de tal análise algumas conclusões a respeito do caráter dionisíaco da 'política' aristofânica.

Biografia do Autor

Luisa Severo Buarque de Holanda, PUC-Rio

Professora de Filosofia Antiga no Departamento de Filosofia da PUC-Rio.

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Publicado

2019-12-22

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Artigos