Um Olhar sobre a Condição Humana

Autores

  • Tássia Vianna de Carvalho Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

Este dossiê tem por objetivo abordar as temáticas relativas à existência humana, compreendida como modo de ser no mundo, em relação direta e imediata com a situação fática na qual ela está inserida, e a partir do qual ela se realiza. Tal forma de compreender a realidade humana deriva de uma falência da concepção moderna de compreender o sujeito apartado da realidade, em uma compreensão restrita à epistêmica. A partir disso, a consciência não se resume a uma dimensão de conhecimento do mundo, mas a uma relação de existência, em sua modalidade originária pré-reflexiva e pré-predicativa, ao modo de uma participação no mundo. Deste modo, a consciência humana não é compreendida como "produtora de interioridade" (Sartre, 1939, 1943), o que a levaria a ser compreendida como um "absoluto solitário" (Merleau-Ponty, 1946) que dá origem ao mundo em sua esfera de imanência. Agora, reinserida novamente em sua situação fática, "homem entre homem, coisa entre as coisas" (Sartre, 1939) a realidade humana é convocada a se engajar neste mundo que lhe é inalienável – na medida em que ela só existe em relação a ele, e este mundo só se revela a partir dela. 

Tal concepção de existência, como esta totalidade sintética indissociável (Sartre, 1943) – entre o ser do mundo fático e o ser indeterminado da realidade humana, que só existe em relação – só é possível após a superação da "ilusão do trás mundos", propiciada por Nietzsche, em sua crítica à metafísica moderna. Buscamos, com isso, enfatizar a relevância do pensamento nietzscheano para superar o dualismo clássico, evidente em uma concepção moderna de subjetividade, que carece de tal participação no mundo – o que, para Nietzsche, se mostra produto de uma herança platônica que se revela ainda não superada no pensamento moderno.

Portanto, privilegiaremos, nesta edição temática, tratar de artigos que salientam a importância de pensar, ainda nos dias de hoje,  autores que nos levam a tematizar da existência humana, naquilo que há de mais originário. Sem, contudo, nos esquecermos da herança histórica,  teórica e conceitual que tornou possível a tal tradição se solidificar. A partir disso, compreendemos a necessidade de voltar os olhares para a origem desta tradição -- resgatando suas origens na fenomenologia clássica, de matriz husserliana, que adota como ponto de partida investigativo uma subjetividade inalienável que, por sua vez, só se realiza em sua dimensão fática, radicalmente situada; em relação direta e imediata com o mundo por ela revelado. Evidenciando, deste modo, os fios de continuidade que atravessam a tradição fenomenológica -- desde seu surgimento, a partir do pensamento de Edmund Husserl, até seus desdobramentos posteriores por parte de autores célebres como Jean-Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty, remontando a autores como Martin-Heidegger, Edmund Husserl, Albert Camus e Søren Kierkegaard.

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Publicado

2024-05-28

Edição

Seção

Editorial