COMPARAR VERSÕES, CRIAR OUTRAS NARRATIVAS: A “QUESTÃO JACINTA DE SIQUEIRA” E SEU GESTO PEDAGÓGICO COLONIAL, VILA DO PRÍNCIPE/MG, SÉCULO XVIII

Autores

Resumo

Propomos uma discussão em torno da narrativa histórica da africana forra Jacinta de Siqueira (c.1680-1751) que viveu nas minas do Serro do Frio e sua Vila do Príncipe/MG. Analisamos a “questão Jacinta de Siqueira” surgida no final do séc. XIX entre os historiadores serranos Nelson de Senna, Dario Augusto Ferreira da Silva e alferes Antônio Luiz Pinto, com versões diferentes e discordantes; ao final do séc. XX e atualmente, com a publicação do Códice Costa Matoso, outros estudos parecem apresentar versões não sustentadas pela  comparação de fontes históricas, como o testamento de Jacinta de Siqueira e uma reavaliação crítica do Códice Costa Matoso. Por questão de método, comparamos versões, narrativas e documentos e apontamos distorções situadas entre a lenda e a história e apresentamos uma nova versão sobre os fatos, aprofundando o contexto macro e microhistórico dessa personagem do Brasil Colônia. Além disso, consideramos que o gesto pedagógico colonial é um conceito explicativo fundamental para a compreensão do contexto social de Jacinta Siqueira com suas tensões e autorizações. O resultado de nossa pesquisa aparece no conjunto da pesquisa, em sucessivas comparações, cujo objetivo é demonstrar os equívocos narrativos; apresentamos um perfil de características históricas e distanciado do imaginário popular.

Biografia do Autor

Danilo Arnaldo Briskievicz, IFMG - InstituTo Federal de Educação de Minas Gerais

Licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-MG, especialista Temas Filosóficos, Mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC. Professor de Filosofia e Sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais - IFMG, Santa Luzia.

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2021-05-17

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Artigos