O REI ARTUR E D. SEBASTIÃO ENTRE AS SIMBOLOGIAS DO DRAGÃO, DO URSO E DO TOURO: DO MEDIEVO À CONTEMPORANEIDADE

Autores

Resumo

O objetivo deste artigo é relacionar dois modelos ideais de reis, Artur e D. Sebastião, com a simbologia animal, respectivamente do dragão e do urso, para Artur e do touro, para D. Sebastião. Esses soberanos estão associados também à figura de Cristo, representando a imagem do messias; são capazes de, no imaginário, trazer a paz, justiça e prosperidade às populações, em diferentes momentos históricos. Artur traz a fartura através do Santo Graal. Já D. Sebastião, seria capaz de conquistar Alcácer-Quibir, no Marrocos, dos muçulmanos; porém quando tal intento não deu certo, passou a ser o rei “encoberto”.  Através da figura desses soberanos, seu caráter messiânico e sua relação com animais que representam a força, a abundância e a fertilidade, podemos também refletir sobre o imaginário político e as suas reminiscências medievais. Acreditamos que pensar sobre a ideia do governante perfeito, garantidor de alegria e felicidade à população, é um tema que mostra a importância da História como disciplina e os vínculos entre o passado e o presente.

 

Biografia do Autor

Adriana Zierer, Universidade Estadual do Maranhão

Doutora em História Medieval pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Realizou estágio Pós-Doutoral na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), junto ao Groupe d’Anthropologie Historique de l’Occident Médiéval (GAHOM). É docente da Graduação e Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Estadual do Maranhão (PPGHIST-UEMA). É docente da Pós-Graduação da Universidade Federal do Maranhão (PPGHIS-UFMA). Coordena os grupos de pesquisa Brathair (Grupo de Estudos Celtas e Germânicos) e Mnemosyne (Laboratório de História Antiga e Medieval). Atualmente é Editora-chefe da revista Brathair e uma das diretoras da Mirabilia Journal.

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Publicado

2021-05-17

Edição

Seção

Dossiê Temático