O SAGRADO FEMININO ENTRE HEBREUS E CRISTÃOS: DAS GRANDES DEUSAS À MARIA
Resumen
Esse artigo objetiva compreender como os atributos de antigas divindades femininas, como as deusas do Crescente Fértil na Antiguidade, são presentificados na virgem Maria num processo de longa duração, através de fontes medievais e contemporâneas. Nos mitos e no imaginário do Antigo Oriente Próximo, as deusas-mãe, como Inanna, estão ligadas aos atributos de guerreiras, à sexualidade, à fertilidade e ao combate, em que passaram por diversas formas de marginalização com o culto à Iahweh. Entretanto, parte de seus atributos são restaurados na imagem da virgem Maria, no que diz respeito à crença num sagrado e divino feminino e nos aspectos de fertilidade, maternidade e guerreira. Para perceber a sobrevivência de tais atributos na mãe de Jesus, iremos analisar as “Cantigas de Santa Maria” (sec. XIII), o livro “As Brumas de Avalon” (1989) e o filme “Io sono con te” (2010). Utilizando como subsídio teórico e metodológico, em uma análise de longa duração, os conceitos de “cultura de presença” de Hans Ulrich Gumbrecht; “alegoria” de Walter Benjamin e “anacronismo” de Georges Didi-Huberman, pretendemos demonstrar nas imagens de Maria (nas referidas fontes) a presença dos atributos das deusas antigas, o que permite entender Maria como a própria deusa.Citas
AFONSO X. Cantigas de Santa Maria. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/mx000001.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2017.
ALFONSO X DE CASTELA. Setenario. In: VANDERFORD, Kenneth H. (Ed.). Buenos Aires: Instituto de Filosofia, 1945.
BELTING, Hans. Semelhança e Presença: A história da imagem antes da era da arte. Rio de Janeiro: [s.n.], 2010
BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Tradução, apresentação e notas de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1984. 276 p.
BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: UFMG, 2006.
BEZERRA, Karina Oliveira. A WICCA NO BRASIL: Adesão e permanência dos adeptos na Região Metropolitana do Recife. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2012.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Reis. São Paulo: Paulus, 2002.
BOFF, Clodovis. Visão social da figura de Maria: uma síntese. Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, v. 63, n. 250, p. 354-372, 2003.
BOFF, Leonardo. O rosto materno de Deus. Ensaio interdisciplinar sobre o feminino e suas formas religiosas. Petrópolis: Vozes, 1986.
BOUZON, Emanuel. O Código de Hammurabi. Petrópolis: Vozes, 1992.
BORGES, Anderson. Alegoria redimida em Walter Benjamin. 2012. 212 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.
BRADLEY, Marion Zimmer. As Brumas de Avalon: o prisioneiro da árvore. Tradução de Waltensir Dutra, Marco Aurelio P. Cesarino. 10 ed. São Paulo: Círculo do Livro, 1989.
CASTRO, Dannyel Teles de. A festa das almas: o culto aos ancestrais no neopaganismo. Revista Último Andar, São Paulo, n. 28, p. 125-140, 2016. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/view/29744>. Acesso em: 03 jul. 2018.
CAZELLES, Henri. História Política de Israel. São Paulo: Paulus, 1986.
CHIESA, Guido. Io sono con te. Itália: Colorado Film, Magda Film, Rai cinema, 2010 (102 minutos).
CHOURAQUI, André. Os homens da Bíblia. São Paulo: Companhia das Letras. 1990.
COHN, Norman. Cosmos, caos e o mundo que virá: As origens nas crenças no apocalipse. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
CONGAR, Yves. Revelação e Experiência no Espírito Santo. São Paulo: Paulinas, 2005.
CORDEIRO, Ana Luiza Alves. ASHERAH: A Deusa Proibida. Revista Aulas, Campinas, n. 4, p. 1-22, 2007.
COSTA, Daniel Lula; ZDEBSKYI, Janaína de Fátima. Alegoria histórica: uma possibilidade para operacionalizar tempo e espaço na antiguidade e no medievo. Revista Roda da Fortuna, Barcelona, v. 6, n. 2, p. 29-43. Disponível em: <https://docs.wixstatic.com/ugd/3fdd18_fd18a6b6f8e64936bd8fc47c57f32a3b.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2017.
DALARUM, Jacques. Olhares de Clérigos. In: DUBY, Georges; PERROT, Michelle. (Org). História das mulheres: A Idade Média. Porto: Afrontamento, 1990.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Ante el Tiempo: Historia del arte y anacronismo de las imágenes. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2011.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Belo Horizonte: UFMG, 2015.
DURAND, Gilbert. As Estruturas Antropológicas do Imaginário. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
DEWACHTER, Michel. Pour les yeux d’Isis. Carcassonne/ Roanne/ Rouen: Réunion des Musées Nationaux, 1998.
Estatueta de Ísis com o Bebê Horus Macedônio e Período Ptolomaico, 332 30 a. e. C. Disponível em: https://www.pinterest.pt/pin/112519690660575262/?lp=true Acessado em 19/08/2018
FLORES, Maria Bernadete Ramos. Elogio do anacronismo: para os andróginos de Ismael Nery. Topoi, Rio de Janeiro, v. 15, n. 29, p. 414-443, 2014.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. Os três dedos de Adão: Ensaios de mitologia medieval. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Tradução de Ana Isabel Soares. Rio de Janeiro: Contraponto: PUC-Rio, 2010.
JARDINS, Rejane Barreto. Ave Maria, ave senhoras de todas as graças!: um estudo do feminino na perspectiva das relações de gênero na Castela do século XIII. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em História, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.
JOHNSON, Timothy J.; OTTAVIANI-JONES, Barbara. The Virgin Mary on Screen: Mater Dei or Just a Mother in Guido Chiesa’s Io Sono con Te (I Am with You). Journal of Religion & Film, [s.l.], v. 18, n. 1, p. 1-19, 2014. Disponível: <http://digitalcommons.unomaha.edu/jrf/vol18/iss1/48>. Acesso em: 16 mar. 2017.
JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000.
JUNKES, Lauro. O processo de alegorização em Walter Benjamin. Anuário de Literatura, n. 2, p. 125-137, 1994.
LAYARD, Austen Henry. The monuments of Nineveh. London: John Murray, 1853. 118 p. Disponível em: <http://etana.org/>. Acesso em: 14 jun. 2017.
LUPI, João. Iconoclastas, Antirréticos e o Poder da Imagem. Ágora Filosófica, Boa Vista, ano 1, n. 2, jul./dez., 2001. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/4238/4238.PDF>. Acesso em: 21 abr. 2018
SALES, José das Candeias. Política(s) e Cultura(s) no antigo Egipto. Lisboa: Chiado, 2015.
SILVEIRA, Aline Dias da. Política e convivência entre cristãos e muçulmanos nas Cantigas de Santa Maria. In: PEREIRA, Nilton M.; ALMEIDA, Cybele C. de; TEIXEIRA, Igor S. (Org.). Reflexões sobre o Medievo. São Leopoldo: OIKOS, 2009. p. 39-59.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).