"TIRAREI MEDICINA QUANDO TERMINAR OS SETE MESES DE CADEIA": IDENTIDADE E RESISTÊNCIA PELO TRABALHO NO SUL DE MOÇAMBIQUE (1945-1970)
Mots-clés :
Moçambique, colonialismo, resistênciaRésumé
O sistema colonial português em Moçambique engendrou um conjunto de categorias sociojurídicas para classificar os grupos de pessoas inseridas na sociedade, constituindo essa uma das principais ferramentas da ideologia de dominação. À esmagadora maioria da população negra, restavam menos e piores oportunidades e perspectivas de vida, já que não eram considerados cidadãos, sendo-lhes vedado, por exemplo, o ingresso no melhor sistema de ensino. Apesar da pressão do regime para a reprodução desse status quo, a resistência de indivíduos marginalizados, por vezes, logrou esgarçar as restritas fronteiras sociais desenhadas para eles, vistos amiúde como mão de obra barata. Neste artigo, discute-se a trajetória de um homem criado no subúrbio de Lourenço Marques (capital moçambicana, atual Maputo) que construiu para si, a partir de uma experiência clandestina na África do Sul, a identidade de médico, profissão que exerceu do seu regresso até ser flagrado e preso na vila de João Belo (hoje, Xai-Xai). Sua experiência é reveladora da insatisfação das camadas subalternas com as condições a si atribuídas pela ordem colonial e como os indivíduos também costuravam para si, por meio do trabalho, alternativas a essa realidade.
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