"TIRAREI MEDICINA QUANDO TERMINAR OS SETE MESES DE CADEIA": IDENTIDADE E RESISTÊNCIA PELO TRABALHO NO SUL DE MOÇAMBIQUE (1945-1970)
Parole chiave:
Moçambique, colonialismo, resistênciaAbstract
O sistema colonial português em Moçambique engendrou um conjunto de categorias sociojurídicas para classificar os grupos de pessoas inseridas na sociedade, constituindo essa uma das principais ferramentas da ideologia de dominação. À esmagadora maioria da população negra, restavam menos e piores oportunidades e perspectivas de vida, já que não eram considerados cidadãos, sendo-lhes vedado, por exemplo, o ingresso no melhor sistema de ensino. Apesar da pressão do regime para a reprodução desse status quo, a resistência de indivíduos marginalizados, por vezes, logrou esgarçar as restritas fronteiras sociais desenhadas para eles, vistos amiúde como mão de obra barata. Neste artigo, discute-se a trajetória de um homem criado no subúrbio de Lourenço Marques (capital moçambicana, atual Maputo) que construiu para si, a partir de uma experiência clandestina na África do Sul, a identidade de médico, profissão que exerceu do seu regresso até ser flagrado e preso na vila de João Belo (hoje, Xai-Xai). Sua experiência é reveladora da insatisfação das camadas subalternas com as condições a si atribuídas pela ordem colonial e como os indivíduos também costuravam para si, por meio do trabalho, alternativas a essa realidade.
Riferimenti bibliografici
BORGES, Vavy Pacheco. Ruy Guerra: paixão escancarada. São Paulo: Boitempo, 2017.
CAPELA, José (Org.). Moçambique pelo seu povo. 2 ed. Porto: Afrontamento, 1974.
CASTELO, Cláudia; THOMAZ, Omar Ribeiro; NASCIMENTO, Sebastião; SILVA, Teresa
Cruz (Org.). Os outros da colonização: ensaios sobre o colonialismo tardio em Moçambique.
Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2012.
CENTRO DE ESTUDOS AFRICANOS. O mineiro moçambicano: um estudo sobre a
exportação de mão de obra, capítulo II. Maputo: Universidade Eduardo Mondlane, 1977.
COELHO, João Paulo Borges. Abrir a fábula. Questões da política do passado em
Moçambique. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 106, p. 153-166, mai. 2015.
CRAVEIRINHA, José. Antologia poética. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
CURTO, Diogo Ramada; DOMINGOS, Nuno; JERÓNIMO, Miguel Bandeira. Introdução: Da
história de África à história global: problemas e conexões. In: COOPER, Frederick (Org.).
Histórias de África: capitalismo, modernidade e globalização. Lisboa: Edições 70, 2016. pp.
-40.
ERRANTE, Antoinette. White skin, many masks: colonial schooling, race, and national
consciousness among white settler children in Mozambique. The International Journal of
African Historical Studies, Boston, v. 36, n. 1, p. 6-33, 2003.
LABAN, Michel. Moçambique: encontro com escritores. I vol. Porto: Fundação Eng. António
de Almeida, 1998.LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992. pp. 133-161.
MELO, António; CAPELA, José; MOITA, Luís; PEREIRA, Nuno Teotónio (Org.).
Colonialismo e lutas de libertação: 7 cadernos sobre a guerra colonial. Porto: Afrontamento,
MENESES, Maria Paula G. O “indígena” africano e o colono “europeu”: a construção da
diferença por processos legais. Cadernos do Centro de Estudos Sociais, Coimbra, n. 7, p. 68-
, 2010.
PENVENNE, Jeanne Marie. A history of African labor in Lourenço Marques,
Mozambique, 1877 to 1950. Boston: Boston University Graduate School, 1982.
PEREIRA, Matheus Serva. Colonialismo-tardio, pós-colonialismo e cultura popular nos
subúrbios de Maputo: um olhar a partir da marrabenta (1945-1987). No prelo.
__________. Ngodo e marrabenta: disputas, apropriações e ressignificações musicais no sul de
Moçambique (1940-1975). No prelo.
__________. Um “membrudo negralhão”: calças e conflitos em Lourenço Marques (1900-
. Revista TEL, Irati, v. 7, n. 2, p. 43-66, jul./dez. 2016.
PORTUGAL. Agência Geral das Colónias. Lisboa, Vol. XXI - 246, 1945, 236 p.
ROCHA, Aurélio. Aculturação e assimilação em Moçambique: uma perspectiva históricofilosófica.
In: Actas do seminário Moçambique: navegações, comércio e técnicas. Lisboa:
Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998. pp. 315-
SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
SILVA, Cristina Nogueira da. Assimilacionismo e assimilados no império português do século
XX: uma relação equivocada. In: XAVIER, Ângela Barreto; SILVA, Cristina Nogueira da
(Org.). O governo dos outros: poder e diferença no império português. Lisboa: Imprensa de
Ciências Sociais, 2016. pp. 323-364.
SILVA, Teresa Cruz e. As redes de solidariedade como intervenientes na resolução de litígios:
o caso da Mafalala. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; TRINDADE, João Carlos (Org.).
Conflito e transformação social: uma paisagem das justiças em Moçambique. 2º volume.
Porto: Afrontamento, 2003. pp. 427-450.
WHISSON, Michael. The Fairest Cape? Joanesburgo: South African Institute of Race
Relations, 1972.LARANJEIRA, Rui. A marrabenta: sua evolução e “estilização”, 1950-2002. Dissertação de
Licenciatura. 2005. 78 f. Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, 2005.
MACAGNO, Lorenzo Gustavo. Os paradoxos do assimilacionismo: “usos e costumes” do
colonialismo português em Moçambique. 1996. 153 f. Mestrado. Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1996.PEREIRA, Matheus Serva. “Grandiosos batuques”: identidades e experiências dos
trabalhadores urbanos africanos de Lourenço Marques (1890-1930). 2016. 274 f. Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
THOMAZ, Fernanda do Nascimento. Casaco que se despe pelas costas: a formação da justiça
colonial e a (re)ação dos africanos no norte de Moçambique (1894-c.1940). 2012. 305 f.
Doutorado. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense,
Niterói, 2012.
ZAMPARONI, Valdemir Donizette. Entre narros e mulungos: colonialismo e paisagem
social em Lourenço Marques (c. 1890-c. 1940). 1998. 582 f. Doutorado. Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
##submission.downloads##
Pubblicato
Fascicolo
Sezione
Licenza
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação;
As opiniões emitidas pelos autores são de sua exclusiva responsabilidade e não refletem a opinião da Ars Historica.