Estudo Comparativo de Traços Não-Métricos em Populações Pré-Históricas do Brasil

Autores

  • Marília Carvalho de Mello e Alvim

Palavras-chave:

Antropologia Pré-histórica, Genética da População Humana.

Resumo

Através de pesquisa morfológica dos traços não-métricos em populações pré-históricas do Brasil (Lagoa Santa e Construtores dos Sambaquis de Cabeçuda e do Forte Marechal Luz) os resultados obtidos foram os que se seguem:

1. As frequências dos tori mandibularis e auditivi na população primeva de Lagoa Santa são muito baixas, respectivamente, 0,64% e 0,54%, sendo ausentes os tori maxillaris e palatinus.

2. As frequências dos tore mandibularis e auditivi na população do Sambaqui de Cabeçuda são estatisticamente significativas. Reunidos os sexos o percentual para ambos os traços é de 30. O torus maxillaris apresenta um percentual baixo (5,05), estando ausente o torus palatinus.

3. Os tori mandibularis e maxillaris ocorrem concomitantemente em apenas 2,02% dos espécimes exumados no Sambaqui de Cabeçuda.

4. A frequência dos tori mandibularis e auditivi nos espécimes masculinos exumados no Sambaqui do Forte Marechal Luz são, respectivamente, 27,78% 11,11%. Esses traços não foram observados nas séries femininas. Os tori maxillaris e palatinus são traços inexistentes nas séries masculinas e femininas.

5. Os tori mandibularis e auditivi não estão correlacionados nos espécimes que constituem a população do Sambaqui do Forte Marechal Luz.

6. Os tori mandibularis, maxillaris e auditivi não foram observados em esqueletos de crianças quer na população da Lagoa Santa, quer das populações construtoras dos Sambaquis do Forte Marechal Luz e Cabeçuda. Somente em uma adolescente de aproximadamente 13 anos, exumada neste último sítio arqueológico, o torus mandibularis foi notado.

7. Não há correlação entre a intensidade do desgaste dentário e a ocorrência dos tori mandibularis, maxillaris e auditivi nas três populações em estudo.

8. O torus mandibularis na população do Sambaqui de Cabeçuda, é mais desenvolvido e de maior extensão que o das populações do Forte Marechal Luz e de Lagoa Santa.

9. A frequência dos tori mandibularis, maxillaris, aliada aos estudos morfoscópicos e morfométricos tradicionais, vem enfatizar o grande distanciamento genético entre os antigos habitantes de Lagoa Santa (Paleo-Índio terminal) e os construtores de Sambaquis do litoral sul brasileiro.

10. As pesquisas antropológicas parecem indicar para os construtores dos Sambaquis de Cabeçuda e Forte Marechal Luz entidades antropofísicas distintas e contemporâneas, as quais se assemelhariam a outras morfologias da Patagônia pré-deformatória (anterior ao aparecimento da deformação intencional de crânios indígenas). Assim sendo, as frequências dos tori mandibularis e auditivi naquelas populações, podem traduzir relacionamento genético e similaridade ambiental.

11. A incidência do torus auditivi nas séries de crânios dos Sambaquis do Forte Marechal Luz e de Cabeçuda, mostrou para o traço uma expressão nitidamente masculina. Essa lesão parece ser ocasionada por tumores dos tecidos moles (cholesteatoma do ouvido) em populações litorâneas que habitualmente mergulham.

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Publicado

2022-01-07

Edição

Seção

Artigos