A desgarrada ou de como o poético pode estar no educativo

Autores

  • Maria Beatriz Albernaz UFRJ

Resumo

Queria fazer presente os acontecimentos que me fizeram perceber que existe pensamento poético na experiência educativa. Para isso, posiciono-me com humildade. Faço silêncio. Aceito e acolho o diferente, o próprio da educação e o próprio da literatura. Queria também dar um cunho celebrativo a esse encontro (pois acredito ser esta minha última comunicação como doutoranda), de celebração à criação e à liberdade. E é por isso que inicio este texto com uma oferenda e que deposito em sacrifício nesta página a história de uma criança que escreveu na 1a série primária uma redação proposta em sua aula de religião. “O que você quer ser quando crescer?”, perguntou a Madre Augusta. Como a maioria das outras meninas, a criança em questão quis ser famosa e rica, como as estrelas de cinema. No auge da politização dos anos 60, no entanto, as freiras protestaram diante de desejo tão materialista. Instada a refazer sua redação, a criança a reescreveu voltada agora para o sentimento de ser alegre. Queria ser a alegria quando crescesse e, assim como um vento divinizado, pudesse  espalhar alegria a todos os homens e a todas as mulheres, tanto nos parques quanto nas guerras. Porém, reconhecendo a impossibilidade de incorporar tal sentimento de modo permanente e influente, ela conclui que melhor seria então querer apenas ter a alegria. As freiras adoraram, deram nota máxima para a menina e a fizeram ler sua redação em voz alta para o resto da turma, de modo que se vislumbrasse ali um exemplo de conduta.

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