Palavra e criação a partir do pensamento de Nietzsche

Autor/innen

  • Flávio Pimentel UFRJ

Abstract

O título palavra e criação traz no seu fundo um tema ao mesmo tempo comum e inusitado: o tema da linguagem. Como bem nota Octavio Paz, todo o problema acerca da tematização da linguagem, todo o controverso de sua questão, talvez advenha de sua impossibilidade de se converter absolutamente em um saber objetivo, de a apanharmos em sua realidade última, pelo simples fato de que nós só podemos nos debruçar sobre ela falando e já desde ela mesma, como meio de acesso; «a linguagem», diz o poeta mexicano, «em sua realidade última, nos escapa.» A linguagem, antecedendo a sua própria conversão em objeto de estudo ou tema para o pensamento, preparando-os e perfazendo seus caminhos essenciais, salta por sobre toda objetivação, como esse manancial enigmático de palavras, pontos de vista, pensamentos, frases entrecortadas ou concretamente formuladas numa interpretação. Fonte que é, a linguagem se apresenta em todo pensamento e fala, abrindo pensamento e fala, sem, por isso, nos desvendar por completo seus segredos, ou seja, sem poder caber por inteiro em uma só fala temática. Justamente porque estamos a todo tempo no meio da linguagem, ela, ao mesmo tempo que abre a possibilidade de toda fala, inclusive sobre ela, salta por sobre, tornando-a um olhar possível sobre seu movimento de dizer. Fonte, conserva seu mistério. Como todo enigma, gera polêmica e sustenta a fecundidade ininterrupta de abordagens e pontos de vista. O comum _ isto em que sempre estamos _, e o misterioso _ isto em que, paradoxalmente, sempre estamos _, nela se encontram reunidos.

Literaturhinweise

HEIDEGGER, M. Phaenomenologie und Theologie. Frankfurt: Victorio Klostermann, 1970.

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