Autobiografia e filosofia: um olhar sobre a técnica cartesiana

Authors

  • Hudson dos Santos Barros UFRJ

Abstract

Em seu Discurso do Método, publicado pela primeira vez em 1637, Descartes escreve a história de sua busca pela certeza científica. Na obra em questão, ele apresenta sua insatisfação com os conhecimentos até então adquiridos e com a ineficácia dos ensinos para o esclarecimento de suas indagações. O pensador desconfia do que foi aprendido e considera muito pouco útil à vida o que estudou. Descarte declara que precisa encontrar seu método, adquirir um conhecimento claro e seguro e bem aplicá-lo. Por isso,  ele desafia a tradição, seus métodos e ensinamentos. Todavia, tal desafio só é válido na medida em que objetiva alcançar a uma verdade para fundamentar as proposições científicas. Ao desafiar a tradição, mais do que construir argumentos para o fundamento do cogito, o filósofo francês apresenta a busca do saber como uma necessidade. Essa procura individual implica um construir-se, o reconhecer da realidade que escapa aos limites dos sentidos.  É a relação sujeito-saber em que a ratio se funda como ferramenta da verdade de um sujeito desejante de si mesmo como agente do conhecimento. Na filosofia cartesiana, o conhecimento exige a dedicação, o constante desafio às opiniões naturalmente aceitas, a disciplina, a vida. É por essa razão que não se deve reduzir Descartes a uma frase: penso, logo existo. Esta é integrante de uma processo de formação: é, exatamente, por isso que a autobiografia se justifica como escrita no Discurso do Método.

References

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. Petrópolis: Vozes, 2002.

CHANTRAINE, Pierre. Dictionnaire étymologique de la langue grecque: histoire des mots. Paris: Éditions Klincksieck, 1984.

DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

GILSON, Etienne. Études sur le rôle da la pensée médievale dans la formation du système cartesien. Paris: Librarie Philosophique J. Vrin, 1930.

ISIDRO PEREIRA, S.J. Dicionário grego-português e português-grego. 8.ed. Braga: Livraria Apostolado da Imprensa, 1998.

ROMANOWSKI, Silvie. L'illusion chez Descartes: la strucuture du discours cartésien. Paris: Éditions Klincksieck, 1974.