Autobiografia e filosofia: um olhar sobre a técnica cartesiana
Abstract
Em seu Discurso do Método, publicado pela primeira vez em 1637, Descartes escreve a história de sua busca pela certeza científica. Na obra em questão, ele apresenta sua insatisfação com os conhecimentos até então adquiridos e com a ineficácia dos ensinos para o esclarecimento de suas indagações. O pensador desconfia do que foi aprendido e considera muito pouco útil à vida o que estudou. Descarte declara que precisa encontrar seu método, adquirir um conhecimento claro e seguro e bem aplicá-lo. Por isso, ele desafia a tradição, seus métodos e ensinamentos. Todavia, tal desafio só é válido na medida em que objetiva alcançar a uma verdade para fundamentar as proposições científicas. Ao desafiar a tradição, mais do que construir argumentos para o fundamento do cogito, o filósofo francês apresenta a busca do saber como uma necessidade. Essa procura individual implica um construir-se, o reconhecer da realidade que escapa aos limites dos sentidos. É a relação sujeito-saber em que a ratio se funda como ferramenta da verdade de um sujeito desejante de si mesmo como agente do conhecimento. Na filosofia cartesiana, o conhecimento exige a dedicação, o constante desafio às opiniões naturalmente aceitas, a disciplina, a vida. É por essa razão que não se deve reduzir Descartes a uma frase: penso, logo existo. Esta é integrante de uma processo de formação: é, exatamente, por isso que a autobiografia se justifica como escrita no Discurso do Método.
Riferimenti bibliografici
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