Escrever: da literatura ao a-caso: o corpo e a escrita em James Joyce
Résumé
Está aqui o nó em que esse trabalho toma foco: investigar um corpo-gesto sustentado pela leveza da fantasmagoria em James Joyce. A prece joyciana demanda um corpo a ser introduzido no “altar de deus”: “introibo ad altare dei” (JOYCE, 2012 (a), p. 97), diz Buck Mulligan do alto da Torre Martelo. O esfacelamento do corpo em Ulisses aponta para um narrador que se dissolve em meio a sua própria calamidade e à multidão que perambula por caminhos sobre os quais pés mancos tropeçam. Dublin é o narrador-cidade que tem seu corpo nas ruas e prédios decadentes enquanto seu fantasma serpenteia a escrita pelas águas do Liffey: Riverrun. Corpo-imagem sem rosto, qualquer identificação é um acaso -- a possibilidade de uma epifania; uma “maravilhosa assombração” (Wonderstruck; Finnegans Wake). Tal assombração desliza na ação imposta pelo discurso direto e se choca no fluxo do rio. Descrever a correnteza: aí está a assombração de um corpo sem rosto que espera o encontro do amante no leito familiar dublinense. A escrita obscena: “Há algo de obsceno e lúbrico na própria aparência das letras” (JOYCE, 2012, p. 88). Escrita da errância ao perceber um objeto enquanto coisa integral quando a relação entre suas partes é incomum. O espectro do mais comum objeto saltando aos olhos pela articulação do assombro na epifania do olhar -- a chance única de ver “o viridante dervixe” (JOYCE, 2012 (b), p. 9).
Palavras-chave: James Joyce; Corpo; Epifania; Fantasmas.
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