Pelas bordas
Abstrakt
Derrida começa Espectros de Marx (1994) dizendo “é preciso aprender a viver com os fantasmas”. O poeta Alberto Pucheu (Mais cotidiano que o cotidiano, 2013) começa um poema com o verso “é preciso aprender a ficar submerso”. O que há em comum nesses manifestos? O que diferencia o imperativo da lei do poder e o imperativo da lei do filósofo e do poeta? Se “naufrágio” é uma palavra que vem sendo recorrentemente encontrada na poesia brasileira contemporânea mais recente, se repetimos de cor o verso “é preciso aprender a ficar submerso”, se vivemos no limite, se a política chegou ao limite, se a política perdeu todos os limites, se chegamos a um limite em que não sabemos o que é política, se não estamos conseguindo viver senão transbordados ou transbordando, se a lei do poema se confunde com a ordem do filósofo que disse “é preciso aprender a viver” (DERRIDA, 1994), se hoje obedecemos à lei do fantasma, isto é, a de sermos tão somente sobreviventes (DERRIDA, Força de Lei, 2010), se toda justiça, como o amor, só é justiça se for um trasbordamento, se nós, viventes, ainda caímos em lágrimas à espera de um meteoro que anuncie o fim do mundo, depois de tantos fins do mundo já anunciados, se nos dobramos por sobre as lágrimas, desdobrando-nos, transbordados, em gestos precários de sobrevivência, como ir ao que resta do desastre do nosso tempo senão pelas bordas?
Palavras-chave: Poesia; Filosofia; Política; Amor.
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